- Meus
pêsames Janaína (Essa frase a trouxe de volta dos seus pensamentos).
- Obrigada
Dr. João (respondeu no automático).
Sentada
em um sofá, na sala onde o corpo do seu velho pai estava sendo velado, já era
início da madrugada, poucas pessoas no velório, aliás, Dr. João, sócio do seu
pai, fora o último a sair, deixando-a sozinha, restaram apenas os funcionários,
no caso o segurança e o recepcionista.
Aproveitando
o silêncio, fez uma oração sentida pelo seu pai, acariciou o seu rosto, depositou
um beijo na testa e lhe disse bem baixinho, pai espero que esteja bem. Um filme
passou diante dos seus olhos, filha única, a mãe falecerá quando ela tinha
apenas 06 anos de idade, cresceu com seu pai, que também foi a sua mãe, ele sempre
esteve presente em todas as etapas da sua vida até aquele momento, ajudando-a
superar todas, seria injusto da parte dela deixa-lo só nesse momento, pensou
consigo mesma.
Agora
ali, em plena madrugada chuvosa, em uma sala de velório, cujo prédio fica
localizado dentro de um cemitério, novamente os dois sozinhos, como se um
estivesse protegendo ao outro.
Janaína
liga para o marido, pergunta se as crianças estão bem, comunica-o da sua
decisão de passar a noite no velório, e deseja-lhe boa noite. Logo o recepcionista,
lhe traz um cobertor e um travesseiro, e avisa que irá diminuir a iluminação do
prédio e se recolher, caso venha precisar de algo, basta apertar o número 9 no
aparelho telefônico que ele virá imediatamente, quanto ao segurança ele estará
em seu posto na portaria do cemitério. E assim foi feito, apenas iluminação do
saguão ficou acesa e mesmo assim a meia luz, e na sala do velório, apenas uma
luz indireta e bem fraca. Mais uma vez, entrou em oração, pensou nos bons momentos
que viveu com o seu pai, pegou o travesseiro e o cobertor se aconchegou no sofá,
a chuva aumentou consideravelmente e a escuridão e o silêncio só eram quebrados
pelos relâmpagos e trovões, e assim acabou adormecendo.
O som
de um desses trovões foi tão alto que acabou por acordá-la, ao abrir os seus olhos,
se assustou com a presença de mais uma pessoa na sala, tratava-se de uma
mulher, que estava em pé ao lado do caixão do seu pai, e por mais que Janaína
tentasse, ela não conseguia se mover e nem falar, tentou inutilmente por alguns
segundos que pareceu uma eternidade, só lhe restou se conformar e observar
aquela mulher misteriosa, olhou-a de cima abaixo, não a reconhecia, a luz
estava muito fraca e a distância de mais ou menos uns três metros não ajudava
na identificação, percebeu que ela falava alguma coisa ao seu pai, de repente
os seus olhos se levantam e apontam em sua direção, acompanhados de um lindo
sorriso, Janaína estava desconsertada, pensava, não consigo falar e nem me
mexer, e se essa mulher vier até mim, dito e feito, ela se aproximou, ajoelhou-se
ao seu lado, acariciou os seus cabelos, lhe deu um beijo, levantou-se acenou se
despedindo e saiu da sala.
Perplexa,
Janaína ainda levou pelo menos um minuto para conseguir se mexer, assim que
conseguiu, se levantou imediatamente e saiu a procura daquela mulher, precisava
agradecer pela visita e se desculpar pelo ocorrido, infelizmente não encontrou
mais ninguém. Naquela madrugada não conseguiu mais dormir, o olhar e o sorriso
daquela mulher não saiam da sua mente.
Assim
que o dia clareou, aproveitou para tomar um banho e se arrumar para o enterro, o
recepcionista veio informar que o café estava servido, Janaína aproveitou e
perguntou sobre a visita, para a sua surpresa, ele afirmou que ninguém entrou
no prédio naquela noite, pois para isso seria necessário que ele liberasse a
entrada, interfonou para o porteiro, que também disse que ninguém passou pela portaria.
Conformada
e ao mesmo tempo impressionadíssima com aquele sonho, achou melhor deixar aquilo
de lado, pois já começavam a chegar pessoas para o enterro, entre eles seus
filhos e marido.
Tudo transcorreu
de maneira calma durante o enterro, muitas pessoas compareceram, seu pai era uma
pessoa querida, ouviam-se muitas risadas dos seus amigos em virtude das histórias
vividas por eles, que Janaína sabia de todas e acabava sorrindo também diante
da forma como eles aumentavam as aventuras do seu velho pai.
Em um
dado momento, após o sepultamento e durante os cumprimentos, ela observa uma mulher
em pé, parada sozinha ao lado do túmulo do seu pai, cuja a distância, fisicamente
parecia ser a mesma da madrugada, Janaína pede desculpas aos que estavam lhe cumprimentando
e segue em direção aquela mulher, ao chegar próxima a ela, observa não ser a
mesma pessoa, embora a semelhança seja grande, ela é muito mais nova. Nisso a
sua tia, irmã da sua mãe, chega ao seu lado e lhe apresenta a moça, Janaína,
essa é Juliana, minha neta e sua prima, filha da Márcia que mora nos E.U.A., por
isso, você ainda não teve a oportunidade de conhece-la, aliás, a Juliana é a
cópia da sua mãe, inacreditável como são parecidas.
Imediatamente
Janaína entendeu tudo o que ocorrera naquela madrugada, e deixou extravasar em lágrimas
toda a sua emoção, sendo amparada pela sua tia.
Janaína
pensava na volta para a sua casa, que pouco importa se foi um sonho, para mim
foi real, agora eu sei que está tudo bem com o meu pai.
Silvio
Klinguelfus Junior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário