Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

1 de maio de 2020

QUANDO O INESPERADO ACONTECE.




- Meus pêsames Janaína (Essa frase a trouxe de volta dos seus pensamentos).

- Obrigada Dr. João (respondeu no automático).

Sentada em um sofá, na sala onde o corpo do seu velho pai estava sendo velado, já era início da madrugada, poucas pessoas no velório, aliás, Dr. João, sócio do seu pai, fora o último a sair, deixando-a sozinha, restaram apenas os funcionários, no caso o segurança e o recepcionista.

Aproveitando o silêncio, fez uma oração sentida pelo seu pai, acariciou o seu rosto, depositou um beijo na testa e lhe disse bem baixinho, pai espero que esteja bem. Um filme passou diante dos seus olhos, filha única, a mãe falecerá quando ela tinha apenas 06 anos de idade, cresceu com seu pai, que também foi a sua mãe, ele sempre esteve presente em todas as etapas da sua vida até aquele momento, ajudando-a superar todas, seria injusto da parte dela deixa-lo só nesse momento, pensou consigo mesma.

Agora ali, em plena madrugada chuvosa, em uma sala de velório, cujo prédio fica localizado dentro de um cemitério, novamente os dois sozinhos, como se um estivesse protegendo ao outro.

Janaína liga para o marido, pergunta se as crianças estão bem, comunica-o da sua decisão de passar a noite no velório, e deseja-lhe boa noite. Logo o recepcionista, lhe traz um cobertor e um travesseiro, e avisa que irá diminuir a iluminação do prédio e se recolher, caso venha precisar de algo, basta apertar o número 9 no aparelho telefônico que ele virá imediatamente, quanto ao segurança ele estará em seu posto na portaria do cemitério. E assim foi feito, apenas iluminação do saguão ficou acesa e mesmo assim a meia luz, e na sala do velório, apenas uma luz indireta e bem fraca. Mais uma vez, entrou em oração, pensou nos bons momentos que viveu com o seu pai, pegou o travesseiro e o cobertor se aconchegou no sofá, a chuva aumentou consideravelmente e a escuridão e o silêncio só eram quebrados pelos relâmpagos e trovões, e assim acabou adormecendo.

O som de um desses trovões foi tão alto que acabou por acordá-la, ao abrir os seus olhos, se assustou com a presença de mais uma pessoa na sala, tratava-se de uma mulher, que estava em pé ao lado do caixão do seu pai, e por mais que Janaína tentasse, ela não conseguia se mover e nem falar, tentou inutilmente por alguns segundos que pareceu uma eternidade, só lhe restou se conformar e observar aquela mulher misteriosa, olhou-a de cima abaixo, não a reconhecia, a luz estava muito fraca e a distância de mais ou menos uns três metros não ajudava na identificação, percebeu que ela falava alguma coisa ao seu pai, de repente os seus olhos se levantam e apontam em sua direção, acompanhados de um lindo sorriso, Janaína estava desconsertada, pensava, não consigo falar e nem me mexer, e se essa mulher vier até mim, dito e feito, ela se aproximou, ajoelhou-se ao seu lado, acariciou os seus cabelos, lhe deu um beijo, levantou-se acenou se despedindo e saiu da sala.

Perplexa, Janaína ainda levou pelo menos um minuto para conseguir se mexer, assim que conseguiu, se levantou imediatamente e saiu a procura daquela mulher, precisava agradecer pela visita e se desculpar pelo ocorrido, infelizmente não encontrou mais ninguém. Naquela madrugada não conseguiu mais dormir, o olhar e o sorriso daquela mulher não saiam da sua mente.

Assim que o dia clareou, aproveitou para tomar um banho e se arrumar para o enterro, o recepcionista veio informar que o café estava servido, Janaína aproveitou e perguntou sobre a visita, para a sua surpresa, ele afirmou que ninguém entrou no prédio naquela noite, pois para isso seria necessário que ele liberasse a entrada, interfonou para o porteiro, que também disse que ninguém passou pela portaria.

Conformada e ao mesmo tempo impressionadíssima com aquele sonho, achou melhor deixar aquilo de lado, pois já começavam a chegar pessoas para o enterro, entre eles seus filhos e marido.

Tudo transcorreu de maneira calma durante o enterro, muitas pessoas compareceram, seu pai era uma pessoa querida, ouviam-se muitas risadas dos seus amigos em virtude das histórias vividas por eles, que Janaína sabia de todas e acabava sorrindo também diante da forma como eles aumentavam as aventuras do seu velho pai.

Em um dado momento, após o sepultamento e durante os cumprimentos, ela observa uma mulher em pé, parada sozinha ao lado do túmulo do seu pai, cuja a distância, fisicamente parecia ser a mesma da madrugada, Janaína pede desculpas aos que estavam lhe cumprimentando e segue em direção aquela mulher, ao chegar próxima a ela, observa não ser a mesma pessoa, embora a semelhança seja grande, ela é muito mais nova. Nisso a sua tia, irmã da sua mãe, chega ao seu lado e lhe apresenta a moça, Janaína, essa é Juliana, minha neta e sua prima, filha da Márcia que mora nos E.U.A., por isso, você ainda não teve a oportunidade de conhece-la, aliás, a Juliana é a cópia da sua mãe, inacreditável como são parecidas.

Imediatamente Janaína entendeu tudo o que ocorrera naquela madrugada, e deixou extravasar em lágrimas toda a sua emoção, sendo amparada pela sua tia.

Janaína pensava na volta para a sua casa, que pouco importa se foi um sonho, para mim foi real, agora eu sei que está tudo bem com o meu pai.

Silvio Klinguelfus Junior.

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