A
escuridão aterrorizante naquela fatídica madrugada, era algo de sobrenatural,
no céu nenhuma estrela, nem mesmo a lua conseguia penetrar com a sua luz as
densas nuvens escuras que insistiam em cobrir a floresta que naquele momento
parecia até mesmo ser macabra.
Antonella
a única sobrevivente de um acidente aéreo na Região do Alto Xingu, que se
localiza na região nordeste do Estado do Mato Grosso, na porção sul da Amazônia
brasileira.
Um
avião Cessna – 206, de prefixo argentino, deixou o seu país de origem com seis
ocupantes, sendo dois tripulantes e quatro passageiros, entre eles Antonella,
seu destino final a Amazônia brasileira, após duas escalas em cidades
brasileiras, seguiu ao rumo final; infelizmente foi engolido por uma tempestade
severa que se formou inesperadamente, situação relativamente comum naquela
região, devido à grande circulação de brisas fluviais. O pequeno avião não teve
chances, obrigando os pilotos a tentarem um pouso de emergência em um grande
rio da região.
Somente
Antonella veio a sobreviver àquele pouso forçado. Após lutar com todas as
forças pela sua vida, conseguiu deixar o rio chegando até a sua margem, a chuva
era torrencial, desnorteada, seguiu pelas margens acompanhando a correnteza,
entretanto, não é fácil caminhar por essas margens, resolveu entrar na mata na
esperança de encontrar alguma trilha.
Logo a
noite chegou e foram horas de terror, a chuva passou, deixando um rastro de
destruição naquela parte da floresta com muitas árvores caídas.
Imaginou
não ter muitas opções, nenhum grupo de resgate viria a procura de sobreviventes
naquele momento, o avião estava submerso e ficou claro que o piloto não havia
conseguido manter contato com a torre de controle durante aquela tempestade.
Argentina,
Antonella já havia feito essa viagem dezenas de vezes, ela é uma experiente
guia para cientistas e alunos de biologia do seu país, que procuram desenvolver
os seus conhecimentos em “in loco” nas florestas. Já havia passado por diversas
situações inusitadas nessas viagens, mas nenhuma se compara a essa.
Esgotada,
no limite das suas forças, agora se depara com uma escuridão que jamais havia
visto na floresta, os barulhos dos animais a amedrontavam ainda mais, sabia que
aquela região era perigosa que se parasse seria uma presa fácil, e assim seguiu
em frente, e de repente o chão sumiu debaixo dos seus pés, desceu rolando por
uma encosta íngreme, durante a queda ia se chocando com diversos obstáculos naturais,
até que sente a sua cabeça bater contra uma pedra e em seguida apagou
completamente.
Ao
acordar, se surpreendeu por não estar mais na floresta, sentiu de imediato um
cheiro muito forte e os seus olhos lacrimejaram com tanta fumaça, demorou um
pouco para perceber que estava dentro de uma oca (construção indígena), aos
poucos, conseguiu a muito custo se levantar, ao passar as mãos pelo seu corpo
percebeu estar extremamente magra, ao tocar a sua cabeça, sentiu falta dos cabelos
e pode perceber uma grande afundamento da sua caixa craniana, não tinha mais
ninguém ali dentro, aparentemente não havia uma porta de acesso ou saída, e
assim foi tateando as laterais da oca, até encontrar uma espécie de abertura.
Do
lado de fora, o sol brilhava forte, demorou alguns minutos para que os seus
olhos se acostumassem a claridade, nesse ínterim, ela sentiu ser tocada por várias
mãozinhas, assim que recuperou a visão plena, pode ver que eram indiozinhos que
estavam ao seu lado, logo vieram os índios adultos da tribo, que tentavam se
comunicar, porém, em um idioma que ela jamais tinha escutado.
Era visível
para Antonella que os índios estavam felizes pela sua recuperação, e com o uso
de muita mímica as coisas foram se acalmando, porém, os dias passavam rápidos,
e ficava claro para ela, que aquela tribo pouco contato tinha com a civilização
tal qual a conhecemos.
Perderá
as contas de quanto tempo já estava tribo, passou a fazer parte dela, ajudava
na preparação dos alimentos, participava dos rituais, enfim, poderia
considerar-se totalmente adaptada àquela realidade, se recuperando totalmente
fisicamente.
Em uma
certa manhã seu coração dispara ao perceber a chegada de uma caminhonete na tribo.
O motorista toma um susto ao vê-la, ele a reconheceu imediatamente dos noticiários
da televisão, que cobriram o acidente aéreo e as buscas que duraram um mês.
A
primeira coisa que Antonella perguntou foi em que dia do ano estávamos e surpreendeu-se
ao perceber que já haviam passados quase quatro meses do acidente. Esclarecidos
todos os acontecimentos, ficou acertado que no dia seguinte ela iria com ele
até a cidade mais próxima para de lá serem tomadas todas as providências para o
seu regresso a Argentina.
Naquela
noite, aproveitando que o motorista falava o idioma indígena, aproveitou para
agradecer a todos por terem salvado a sua vida, e acabou descobrindo como fora
o seu resgate. Disseram que a encontram caída e semimorta na base de uma
encosta, com um ferimento enorme na cabeça, muitos machucados pelo corpo e coberta
por muitos insetos, principalmente de formigas que já lhe haviam picado quase
que completamente, a trouxeram para tribo e começaram cuidar dela, durante dois
meses permaneceu em coma. Segundo ela e o motorista puderam deduzir, os índios acreditavam
que havia contraído malária o que agravou muito o seu quadro.
Extremamente
grata, Antonella, deixa aquela tribo para trás, com a certeza de voltar um dia.
Ao desembarcar na Argentina, estava sendo aguardada por seus filhos, parentes,
amigos e muitos jornalistas, ansiosos para saber detalhes da história mais inacreditável
que eles até então tinham conhecimento.
Lágrimas
insistiam em cair dos olhos de Antonella, que agora em casa com os seus filhos em
seu colo, não via a hora de levá-los todos para conhecer a tribo onde ela
nasceu novamente.
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