Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

23 de maio de 2020

A FLORESTA


A escuridão aterrorizante naquela fatídica madrugada, era algo de sobrenatural, no céu nenhuma estrela, nem mesmo a lua conseguia penetrar com a sua luz as densas nuvens escuras que insistiam em cobrir a floresta que naquele momento parecia até mesmo ser macabra.

Antonella a única sobrevivente de um acidente aéreo na Região do Alto Xingu, que se localiza na região nordeste do Estado do Mato Grosso, na porção sul da Amazônia brasileira.

Um avião Cessna – 206, de prefixo argentino, deixou o seu país de origem com seis ocupantes, sendo dois tripulantes e quatro passageiros, entre eles Antonella, seu destino final a Amazônia brasileira, após duas escalas em cidades brasileiras, seguiu ao rumo final; infelizmente foi engolido por uma tempestade severa que se formou inesperadamente, situação relativamente comum naquela região, devido à grande circulação de brisas fluviais. O pequeno avião não teve chances, obrigando os pilotos a tentarem um pouso de emergência em um grande rio da região.

Somente Antonella veio a sobreviver àquele pouso forçado. Após lutar com todas as forças pela sua vida, conseguiu deixar o rio chegando até a sua margem, a chuva era torrencial, desnorteada, seguiu pelas margens acompanhando a correnteza, entretanto, não é fácil caminhar por essas margens, resolveu entrar na mata na esperança de encontrar alguma trilha.

Logo a noite chegou e foram horas de terror, a chuva passou, deixando um rastro de destruição naquela parte da floresta com muitas árvores caídas.

Imaginou não ter muitas opções, nenhum grupo de resgate viria a procura de sobreviventes naquele momento, o avião estava submerso e ficou claro que o piloto não havia conseguido manter contato com a torre de controle durante aquela tempestade.

Argentina, Antonella já havia feito essa viagem dezenas de vezes, ela é uma experiente guia para cientistas e alunos de biologia do seu país, que procuram desenvolver os seus conhecimentos em “in loco” nas florestas. Já havia passado por diversas situações inusitadas nessas viagens, mas nenhuma se compara a essa.

Esgotada, no limite das suas forças, agora se depara com uma escuridão que jamais havia visto na floresta, os barulhos dos animais a amedrontavam ainda mais, sabia que aquela região era perigosa que se parasse seria uma presa fácil, e assim seguiu em frente, e de repente o chão sumiu debaixo dos seus pés, desceu rolando por uma encosta íngreme, durante a queda ia se chocando com diversos obstáculos naturais, até que sente a sua cabeça bater contra uma pedra e em seguida apagou completamente.

Ao acordar, se surpreendeu por não estar mais na floresta, sentiu de imediato um cheiro muito forte e os seus olhos lacrimejaram com tanta fumaça, demorou um pouco para perceber que estava dentro de uma oca (construção indígena), aos poucos, conseguiu a muito custo se levantar, ao passar as mãos pelo seu corpo percebeu estar extremamente magra, ao tocar a sua cabeça, sentiu falta dos cabelos e pode perceber uma grande afundamento da sua caixa craniana, não tinha mais ninguém ali dentro, aparentemente não havia uma porta de acesso ou saída, e assim foi tateando as laterais da oca, até encontrar uma espécie de abertura.

Do lado de fora, o sol brilhava forte, demorou alguns minutos para que os seus olhos se acostumassem a claridade, nesse ínterim, ela sentiu ser tocada por várias mãozinhas, assim que recuperou a visão plena, pode ver que eram indiozinhos que estavam ao seu lado, logo vieram os índios adultos da tribo, que tentavam se comunicar, porém, em um idioma que ela jamais tinha escutado.

Era visível para Antonella que os índios estavam felizes pela sua recuperação, e com o uso de muita mímica as coisas foram se acalmando, porém, os dias passavam rápidos, e ficava claro para ela, que aquela tribo pouco contato tinha com a civilização tal qual a conhecemos.

Perderá as contas de quanto tempo já estava tribo, passou a fazer parte dela, ajudava na preparação dos alimentos, participava dos rituais, enfim, poderia considerar-se totalmente adaptada àquela realidade, se recuperando totalmente fisicamente.

Em uma certa manhã seu coração dispara ao perceber a chegada de uma caminhonete na tribo. O motorista toma um susto ao vê-la, ele a reconheceu imediatamente dos noticiários da televisão, que cobriram o acidente aéreo e as buscas que duraram um mês.

A primeira coisa que Antonella perguntou foi em que dia do ano estávamos e surpreendeu-se ao perceber que já haviam passados quase quatro meses do acidente. Esclarecidos todos os acontecimentos, ficou acertado que no dia seguinte ela iria com ele até a cidade mais próxima para de lá serem tomadas todas as providências para o seu regresso a Argentina.

Naquela noite, aproveitando que o motorista falava o idioma indígena, aproveitou para agradecer a todos por terem salvado a sua vida, e acabou descobrindo como fora o seu resgate. Disseram que a encontram caída e semimorta na base de uma encosta, com um ferimento enorme na cabeça, muitos machucados pelo corpo e coberta por muitos insetos, principalmente de formigas que já lhe haviam picado quase que completamente, a trouxeram para tribo e começaram cuidar dela, durante dois meses permaneceu em coma. Segundo ela e o motorista puderam deduzir, os índios acreditavam que havia contraído malária o que agravou muito o seu quadro.

Extremamente grata, Antonella, deixa aquela tribo para trás, com a certeza de voltar um dia. Ao desembarcar na Argentina, estava sendo aguardada por seus filhos, parentes, amigos e muitos jornalistas, ansiosos para saber detalhes da história mais inacreditável que eles até então tinham conhecimento.

Lágrimas insistiam em cair dos olhos de Antonella, que agora em casa com os seus filhos em seu colo, não via a hora de levá-los todos para conhecer a tribo onde ela nasceu novamente.

Silvio Klinguelfus Junior.

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