Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

30 de junho de 2020

A SOCIEDADE




Já passavam das três horas da madrugada e nada do sono chegar. Nelson já tinha assistido a televisão, lido um livro, rezado e nada.

O pior era que o dia estava repleto de compromissos importantes, e uma noite onde conseguisse dormir muito bem, viria a calhar, entretanto, a ansiedade tomou conta, só pensava em como deveria proceder diante de tantas situações que lhe aguardavam.

Assim as horas foram passando e conseguiu cochilar por volta das cinco horas da manhã, mas, logo acordou assustado com o som do alarme do despertador que marcava exatamente 6:15 h.

Parecia que havia levado uma surra, levantou-se com muito custo, tomou um banho, fez a higiene pessoal, se arrumou com esmero, o dia seria puxado, não tinha dúvidas, entretanto, seria recompensador.

Ao chegar à garagem do Edifício onde o seu carro estava estacionado, entrou e deu partida e nada do carro funcionar, pensou consigo mesmo: nada de desespero, vou de taxi.

Chegando ao ponto de taxi que fica próximo a sua residência, não havia nenhum carro, esperou dez minutos e nada, olhou o relógio, fez as contas, se pegar um ônibus até a estação do metrô do Tatuapé, conseguirá chegar com folga ao primeiro e mais importante compromisso do dia.

Rumou ao ponto de ônibus, os quatro primeiros passaram lotados, conseguir pegar o próximo, seguiu espremido até desembarcar na estação do Tatuapé, novamente olhou as horas, já não tinha mais margem para atrasos. Ao descer as escadas de acesso ao terminal, parecia que São Paulo inteira estava se utilizando do transporte público, infelizmente foi preciso muita paciência para conseguir embarcar.

Dentro do vagão, a situação não era diferente a do ônibus, seguiam como sardinhas, para ajudar o ar condicionado não estava dando conta e o calor já beirava o insuportável, quando de repente o metrô para de funcionar, escuridão total, as luzes de emergência se acendem, dez minutos depois o vagão começa a se mover novamente.

Pelas suas contas, já está atrasado, a viagem até a estação Marechal Deodoro que demoraria em média 20 minutos, agora já estava na casa dos 40 minutos.

Já desanimado ao descer na estação Mal. Deodoro, seguiu para o próximo trajeto que seria a pé, são pelo menos cinco quarteirões seguindo em linha reta pela Rua das Palmeiras, até chegar ao Prédio onde fica o seu escritório, assim que começou a caminhada, mais uma surpresa, uma chuva dessas de lavar a alma, não durou mais do que três minutos, tempo suficiente para pegar Nelson no meio do caminho entre a estação e a primeira marquise de um prédio onde poderia se abrigar.

Agora o quadro estava completo, atrasado e ensopado, o que mais poderia acontecer, dessa forma seguiu rumo ao trabalho, começou a mancar, acabará de perder um salto do sapato, que passou boiando pela enxurrada em direção a boca de lobo.

Ao chegar ao prédio onde fica o seu escritório, os três elevadores não estavam dando conta da quantidade de pessoas, as catracas de acesso estavam lotadas, não teve dúvidas, já estava literalmente ferrado, resolveu subir pelas escadas os dez andares, tirou os sapatos, as meias e começou a subir, quando estava no oitavo andar, sua respiração estava ofegante, o coração batia forte e as pernas estavam trêmulas, pensou em desistir, parou um pouco respirou, se curvou, apoiou os braços nas pernas, respirou e resolveu continuar.

A muito custo conseguiu terminar os dois andares que faltavam, as escadas deste edifício davam acesso a parte de trás das salas comerciais, enquanto os elevadores pela parte da frente, somente quando Nelson parou de frente a porta é que se lembrou que emprestará a chave da porta dos fundos para André, seu sócio. O escritório pegava todo o andar e àquela era a única porta de acesso pelos fundos. Os seus funcionários começariam a chegar apenas a partir das nove horas. A pedido do cliente havia marcado a reunião mais cedo. Mesmo assim resolveu bater à porta, obviamente que ninguém atendeu, pois ele seria o primeiro a chegar naquele dia.

Estamos no início do ano de 1.990, os celulares ainda não haviam começado a operar no Brasil. Dessa forma, Nelson não teve alternativa a não ser descer novamente os 10 andares. Durante a descida pensava que o negócio não era para dar certo, já faz dez meses que eles estavam negociando essa parceria, que seria fantástica para o seu escritório, infelizmente depois desse atraso, provavelmente tudo teria ido literalmente por água abaixo, tendo que começar a remar tudo novamente.

Ao chegar ao térreo o segurança que era amigo de Nelson, sorriu ao vê-lo descalço, despenteado, ensopado e esbaforido, sem dar tempo de o segurança falar qualquer coisa, emendou, se abrir a boca, vamos sair no braço, Antônio não aguentou e caiu na gargalhada.

Os elevadores já não estavam tão cheio o próximo período de movimento seria as 9:00 horas, assim, Nelson entrou sozinho no elevador e pode ver quando a porta estava quase se fechando, que entrava no prédio uma mulher correndo, toda molhada com o cabelo escorrido e com os sapatos de salto altos em uma das mãos, a porta se fechou e ele sorriu, novamente olhou para o relógio, 50 minutos atrasado, ninguém esperaria no corredor todo esse tempo, ainda mais se tratando do representante do maior e mais respeitado escritório de advocacia da cidade de São Paulo, quiçá, do Brasil.

As sair do elevador, viu que não tinha ninguém no hall de acesso, se olhou no espelho, estava deplorável, não era para menos que Antônio o segurança havia caído no riso. Assim, resolveu mudar os seus pensamentos, esboçou mais um sorriso, lembrou daquela mulher que estava em situação pior do que a dele.

Nem bem Nelson havia entrado em seu escritório, ouviu algumas batidas a porta, e lá foi ele manquitolando abrir ver quem era, provavelmente deveria ser algum funcionário chegando. Ao abrir a porta, foi surpreendido pela aquela mesma mulher que ele havia visto chegar ao prédio, ela estava em pior estado do que ele, entretanto, ela continuava linda, tratava-se sem dúvida de uma linda mulher.

- Em que posso ajudá-la?

- Tenho uma reunião agendada com o Dr. Nelson e estou atrasada, será que ele poderia me receber, eu sou Valentina, sócia do escritório G & P Advogados e Associados.

- Doutora Valentina, é um prazer recebê-la em meu escritório, eu sou o Dr. Nelson, muito prazer. Me desculpe pelo meu estado.

Os dois riram muito da situação, inacreditavelmente Valentina havia enfrentado problemas semelhantes para chegar até o escritório.

Nelson propôs a Valentina que a eles se recompusessem dentro do possível e que ela o acompanhasse até a uma loja de departamento muito famosa que ficava na esquina.

Assim o fizeram, foram as compras, se arrumaram a contento nos provadores, a loja de departamento, contava ainda com com um salão de beleza completo, o qual Valentina aproveitou para arrumar os cabelos e a maquiagem, enquanto isso Nelson cortou os cabelos e aparou a barba.

Agora recompostos, resolveram atravessar a rua e seguir até uma cafeteria para degustar um excelente café e aproveitaram para se conhecerem melhor.

Depois de muitas risadas ficou acertado entre eles, que a parceria estava firmada, pelo visto para a vida toda, depois de dois anos Valentina e Nelson entravam na Igreja para se casarem, e adivinhem, caiu um temporal e o casamento quase não aconteceu, dos dois se atrasaram...

Silvio Klinguelfus Júnior.


21 de junho de 2020

PELAS ESTRADAS DA VIDA




Estamos em meados dos anos setenta, Pedro trabalhava como representante comercial de uma famosa empresa americana de lubrificantes para motores, morador da cidade de São Paulo – SP., o seu raio de atuação englobava todas as cidades margeadas pela Rodovia Presidente Dutra, que liga a cidade de São Paulo a do Rio de Janeiro – RJ., naquela época, ele praticamente levava cinco dias para atender todas as cidades na ida e outros cinco na volta, soma-se a isso, os finais de semana, portanto, ele ficava praticamente uma quinzena fora de casa.

Pedro era solteiro, filho mais velho do casal de italianos Giuseppe e Maria, morava sozinho em um sobrado ao lado da casa dos seus pais no bairro da Mooca na cidade de São Paulo, estava com 25 anos de idade, era um jovem bem afeiçoado e como todo italiano que se preze gostava muito de falar e de gesticular, pontos positivos para a sua profissão, que aliás, ia muito bem, tinha um ótimo salário, comissão pelas vendas, seguro de vida, hospedagem e despesas com alimentação pagas pela empresa, bem como carro do ano e quilometragem livre, o que deixava para ele ao final do mês, praticamente todo o seu salário livre, em cinco anos nessa empresa, conseguiu comprar a vista a sua casa e fazer alguns bons investimentos.

Seus pais já haviam se acostumado com as viagens de Pedro e sempre esperavam ansiosos pelo seu retorno ao lar, principalmente pelas suas histórias e experiências que ele gostava de compartilhar com eles, e também por alguns presentes que trazia para sua mãe, entre eles muitos doces e queijos das regiões visitadas.

Algumas vezes, nessas viagens, Pedro resolvia visitar todas as cidades na viagem de ida, embora corrido, ele tinha uma intenção por de trás disso, ele gostava muito de fazer o percurso de volta pela Rodovia Rio – Santos, curtindo a estrada com o seu carro um Passat ano 1975 tipo exportação e também todas as praias do trajeto, sem contar que adorava parar em uma pousada na cidade de Paraty – RJ., onde a filha dos proprietários era uma paixão a muito correspondida, ficava por lá pelo menos de dois a três dias no mês, aproveitando o namoro com Letícia.

Durante o jantar, na véspera de mais uma viagem para o Rio de Janeiro, Pedro avisou aos pais, que iria trazer Letícia para que eles a conhecessem, pois eles iriam ficar noivos, sua mãe ficou muito feliz com a notícia, pois, ansiava em conhecer a futura nora que certamente iria preencher um enorme vazio em sua vida, uma vez, que o casal havia tido cinco filhos, todos homens e o sonho dela sempre foi ter uma menina.

Assim Pedro seguiu viagem, deixando para trás, pais esperançosos com o seu retorno e de outro lado, Leticia o aguardava ansiosa em Paraty.

Pedro estava exultante, todos os seus clientes perceberam que ele estava diferente e quando lhe perguntavam, ele dizia que iria se casar, logo, logo e todos os cumprimentavam pela decisão tomada.

Quando chegou a Paraty, conforme combinado, o casal comemorou o noivado, deixando os pais de Leticia muito felizes, e o casamento fora marcado para dali a um mês. Essa pressa toda tinha um motivo, Letícia estava grávida o que deixava Pedro ainda mais feliz, mas, resolveram não contar a ninguém em um primeiro momento.

Depois do noivado seguiram rumo a São Paulo, para que Letícia fosse apresentada a família de Pedro, o que aconteceu com muita festa, Dona Maria simplesmente amou a sua nora, imediatamente começou a chamá-la de filha, nascia ali um relacionamento que não tem nenhuma explicação lógica.

Quando levava de volta Letícia para a casa dos pais em Paraty, durante a descida da serra do mar, um acidente envolvendo um caminhão sem freios, acabou jogando o carro de Pedro para fora da estrada em direção a um abismo, Letícia foi arremessada para fora do carro, mas, Pedro afundou juntamente com o carro nas águas caudalosas do Rio Paraibuna  e seu corpo não foi encontrado.

Leticia sobreviveu ao acidente, ficou em coma durante uma semana, mas não perdeu o bebê, teve alguns ferimentos graves, mas se recuperou bem. Ela passou a residir na casa de Pedro, a família que durante o período em que ela estava em coma, foi informada pelo médico do seu estado gravídico, a adotou como filha e a chegada de Luana encheu de alegria aquela família italiana que estava em luto e com o coração partido pela perda do seu primogênito.

A situação econômica estável de Pedro mais o seguro de vida da empresa americana, deixou Letícia e sua filha em uma situação muito cômoda do ponto de vista financeiro, somando-se a isso o amor que elas recebiam da família, principalmente de Dona Maria, que a tratava como uma filha querida, tranquilizava o coração de Letícia quanto ao futuro de Luana.

Dois anos haviam se passado desde o acidente quando uma notícia abalou a estrutura da família, o Pai de Letícia ficou sabendo que um homem sem identificação que estava hospitalizado na cidade de Cunha – SP., saiu do coma depois de dois anos, mas, sem memória. Alguma coisa o levou a pegar o seu carro e subir a Serra que liga Parati a Cunha, para conhecer esse homem. Qual não foi a sua surpresa ao ver que se tratava de Pedro.

Assim que Pedro viu o seu sogro, imediatamente a sua memória voltou e um rio de lágrimas começou a escorrer pela sua face, o seu sogro emocionado também não conteve o choro, ao abraçar Pedro, este lhe perguntou como estavam Letícia e o bebê, ao receber a notícia que ambos passavam bem, não conseguia conter a emoção.

Disse ao sogro se lembrar perfeitamente do acidente, que não teve culpa, que foi colhido por um caminhão em uma das curvas e que viu Letícia ser arremessada para fora do carro e depois apagou.

Em São Paulo uma festa sem precedentes foi armada para receber Pedro, estavam todos lá, até mesmo seus antigos clientes fizeram questão de comparecer.

Ao chegar em companhia dos seus sogros, Pedro ainda em recuperação, não sabia de sorria, se chorava, se ficava preocupado com a saúde dos seus pais ou com a de Letícia, tamanha fora a emoção do reencontro, de repente, seus olhos se cruzaram com a da pequena Luana que estava no colo de Letícia, ao ver aqueles olhinhos perscrutarem a sua alma, sucumbiu a emoção, sabia em seu íntimo que ali estava o motivo de ter continuado vivo.

E em uma prece sentida entre tantos abraços e beijos, agradeceu ao Pai por mais essa oportunidade.

Silvio K. Junior

18 de junho de 2020

MARCHE


Siga em frente. 

Marche!!!

Isolamento social é diferente de afastamento social.

Não se deixe contaminar pela solidão.

Acredite, nós precisamos uns dos outros.

Não deixe a sua alma ficar imóvel diante do vírus.

Faça a sua parte.

Mova-se em direção ao Amor.

Eu, você, todos nós, somos muito mais do que tudo isso.

Silvio K. Jr.

MÃOS A OBRA

Entre fazer o bem ou o mal.

A escolha é absolutamente nossa.

Depois não adianta reclamar que reprovamos na prova chamada vida.

Não releguemos ao ócio a nossa vida.

Há um caminho melhor.

Mãos-a-obra.

Silvio K. Jr.

CUIDE DA SUA VIDA

O melhor que podemos fazer é cuidarmos da nossa própria vida.

Depois não adianta reclamar que ela desandou.

Cuidamos tanto da vida dos outros que acabamos negligenciando a nossa própria.

Parabéns!

Literalmente estamos dormindo com o inimigo.

Tudo é uma questão de escolha e de grau importância.

O que é mais importante para você, a vida dos outros, seu trabalho, Deus?

Diante dessa ótica, se lhe perguntassem quem é você?

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.

Silvio K Jr.

A VIDA É BELA



Abra os seus olhos.

Olhe ao redor.

Agradeça ao Pai.

Colabore você também.

Construa um mundo melhor.

Semeie o bem.

Eis aí a nossa bênção diária.

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.

Silvio K. Jr.

13 de junho de 2020

COISAS DE DEUS



Não há dois lados quando se trata "das coisas" de Deus.


Não dá para fazer concessões.


Simples assim.


Qualquer coisa fora disso não passa de hipocrisia.


Sim, nós sabemos quando estamos errados.


A nossa consciência não nos deixa mentir para nós mesmos.


Então, não defenda os seus erros, muito menos os erros dos outros.


Que tenhamos coragem para assumir os nossos erros e seguirmos em frente.


Que Deus nos abençoe hoje e sempre.


Silvio K. Jr.

A BELEZA DA VIDA.



A vida é bela.

Abra os seus olhos.

Olhe ao redor.

Agradeça ao Pai.

Colabore você também.

Construa um mundo melhor.

Semeie o bem.

Eis aí a nossa bênção diária.

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.

Silvio K. Jr.

Vossa Vontade



"Seja feita a Vossa Vontade..."

Qual foi a parte que nós não entendemos.

Deus não faz o que queremos e sim o que precisamos.

Nos lembremos disso em nossas preces.

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.

Silvio K. Jr.

CUIDANDO DA SUA PRÓPRIA VIDA


O melhor que podemos fazer é cuidarmos da nossa própria vida.

Depois não adianta reclamar que ela desandou.

Cuidamos tanto da vida dos outros que acabamos negligenciando a nossa própria.

Parabéns!

Literalmente estamos dormindo com o inimigo.

Tudo é uma questão de escolha e de grau importância.

O que é mais importante para você, a vida dos outros, seu trabalho, Deus?

Diante dessa ótica, se lhe perguntassem quem é você?

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.

Silvio K Jr.

DIGNIDADE



Dona Adália com 54 anos de idade, trabalha durante o dia das 6:00 às 12:00 h, como gari nas ruas de São Paulo e a noite das 18:00 às 24:00 h, como faxineira em um Hospital particular. Com o que recebe consegue se manter, paga o aluguel, as contas, enche de mimos a sua neta que é a sua paixão, e ainda consegue guardar um pouco em uma poupança.


Vida nada fácil, porém, Adália não reclama da rotina diária, por mais estranho que possa parecer para muitos, ela é uma mulher realizada e feliz, conseguiu criar a sua filha com dignidade mesmo após o falecimento do seu amado marido, uma das suas maiores alegria foi vê-la se formar em Letras. E, hoje ver que a sua filha se tornou uma excelente professora e mãe, completa a sua felicidade.


Se há alguma coisa que a incomoda em sua vida, talvez seja a invisibilidade social que ela experimenta diariamente nas ruas de São Paulo, ela passa desapercebida para milhares de pessoas, como se não existisse, e a noite no Hospital, muitos pacientes e médicos nem a cumprimentam. Entretanto, ela pensava consigo mesmo, essas pessoas não sabem o que estão perdendo em não me conhecerem, dava uma risada e seguia a sua vida. Uma das raras exceções, era um senhor que todos os dias, passava por ela e lhe desejava um bom dia com um sorriso imenso. Adália sentia tanta alegria, que procurava sempre naquele horário, varrer a rua no mesmo local, só para receber o cumprimento daquele senhor, sempre bem vestido com terno e gravata, que tornava o seu dia especial, e assim que ele passava por ela, o acompanhava com os olhos e via quando entrava no prédio daquela instituição bancária, e em seu íntimo o abençoava, desejando que o dia daquele senhor fosse maravilhoso.


Certa noite no Hospital, ao começar o seu turno pela ala aonde ficam os pacientes dos quartos particulares, ao entrar em um deles se deparou com aquele senhor que a cumprimentava todos os dias, deitado em uma cama, em pé ao seu lado uma senhora muito simpática, a cumprimentou, disse que podia ficar a vontade, que o seu marido sofrerá um acidente quando saia do trabalho e que infelizmente agora estava em coma, mas que não corria risco de morrer. Adália se emocionou o que foi percebido pela esposa, que lhe perguntou: a senhora conhece o meu marido? Adália sem saber o que responder, resolveu contar toda a história. E ali, naquele momento, duas senhoras choravam comovidas. Durante quase um mês, todas as noites Adália passava naquele quarto, e junto com aquela senhora faziam uma oração pela recuperação da saúde daquele bom homem. Até que em uma noite ao entrar no quarto viu aquele senhor sentado na cama, que ao vê-la, imediatamente abriu o sorriso, aquele mesmo que ela já estava tão acostumada a ver, não conseguiu conter as lágrimas. O homem que já havia sido informado pela esposa de todo o ocorrido, chamou-a para perto dele, lhe deu um abraço e lhe disse, obrigado por tudo, gostaria de me apresentar, eu me chamo Arthur e tenho muito prazer em oficialmente conhecê-la Adália. Sei que você já conhece a minha esposa Mariana, e hoje eu quero que você conheça os meus filhos, João, Antônio e Sophia. Todos se abraçaram e comemoraram a recuperação de Arthur. Adália não tinha palavras para agradecer tanto carinho recebido por aquela família. Foi difícil para ela se despedir, mas, precisava continuar o seu trabalho. Arthur novamente a chamou e lhe disse que a história deles não acabava ali, mas, que ela estava só começando. E, assim, com o coração batendo forte, Adália cumpriu com as suas funções naquela noite e seguiu para casa.


Passado uma semana, enquanto Adália varria a rua, Arthur se aproxima lhe cumprimenta com aquele sorriso de sempre e lhe dá um grande abraço e a convida para ir tomar um café com ele no Banco. Ela agradece ao convite, mas, recusa, alegando não estar vestida de acordo para entrar naquele prédio chique e que também não podia abandonar o serviço. Não aceito recusas, disse Arthur, pegou-a pela mão e praticamente a arrastou para dentro do Banco, assim que entraram no prédio, reconheceu a esposa e os filhos de Arthur, que vieram lhe cumprimentar com alegria.


Arthur vinha a ser o presidente e sócio majoritário daquele Banco, e disse a Adália, que a partir daquele momento, se aceitar é claro, que ela passaria a ser funcionária daquela instituição bancária, a sua função será a de chefiar e coordenar a equipe de limpeza que cuida de todo aquele prédio. A única condição imposta por Arthur, era que Adália apenas coordenasse e não trabalhasse diretamente com a limpeza.


A vida de Adália mudou radicalmente daquele dia em diante, pela primeira vez na vida tinha uma condição financeira estável, a sua poupança que por ironia do destino era naquela mesma instituição, agora é um fundo de ações gerida pelo próprio Arthur, a sua neta estuda na escola mantida pela fundação do Banco, na qual a sua filha foi contratada para dar aulas.


Mas, Adália não cumpriu a sua parte no acordo com Arthur, todos os dias é ela quem faz a faxina na sala do Presidente do Banco, que sempre que chega a cumprimenta com um sorriso e um abraço, e logo depois lhe dá uma dura, não foi para isso que a contratei, vou ter que demiti-la qualquer dia desses. E ao fundo, ouve-se a voz de Sophia, filha de Arthur e braço direito do pai na instituição, nem ouse papai, nem ouse...


Silvio Klinguelfus Junior



6 de junho de 2020

CAMPEÃO


Em meados dos anos oitenta nasceu Luizinho, prematuro aos sete meses, era tão pequeno quando deixou o hospital que literalmente cabia dentro de uma caixa de sapato.

Seus pais eram moradores da periferia de Salvador – BA., e desde sempre, Luizinho teve que lutar diariamente pela sua vida, aliás, história não muito diferente das demais crianças que ali nasceram e cresceram, entretanto, por ser muito mirrado, enfrentava discriminação diária, porém, mesmo que apanhasse não fugia de uma briga, e na maioria das vezes, mesmo os seus oponentes sendo muito maiores, era ele quem “saía vencedor” dessas brigas. Ele tinha como dizem no popular, sangue nos olhos.

Assim, na sua pré-adolescência embora a sua estatura fosse pequena, era respeitado por todos os meninos daquela região, ninguém era páreo para o Luizinho. O tráfico tentava aliciá-lo, porém, os pais já o haviam prevenido e não perdoariam tamanha decepção. Ele realmente amava aos seus pais e vice-versa, em sua casa ele sentia-se muito bem, não gostaria de perder aquilo por nada.

Seguia os estudos aos trancos e barrancos, mas não desistia. Na escola pública em que estudava, um professor de Karatê começou um trabalho voluntário. Luizinho achou o máximo uma demonstração que ocorreu na quadra e procurou o mais rápido possível fazer a sua inscrição.

Passado, menos de um ano daquela data, Luizinho agora com 13 anos de idade, estava disputando o seu primeiro campeonato estadual de Karatê. Quando a equipe do Mestre Oyama chegou ao ginásio onde aconteceriam as lutas, os outros competidores riam ao vê-lo passar devido ao seu tamanho. Luizinho lutou 5 vezes aquele dia, ganhou todas por nocaute e foi declarado campeão.

Ao retornar para a sua casa, teve a maior surpresa da sua vida, todos os moradores daquela região sofrida o aguardavam para cumprimentá-lo. Ele não cabia em si de tanta felicidade. Até mesmo o temido dono do tráfico, veio pessoalmente para lhe dar um abraço.

O tempo passa depressa, agora Luizinho já é o campeão brasileiro de Karatê. Mas, a situação financeira estava difícil, e o esporte não estava lhe dando frutos, após uma conversa com o seu mestre, resolveu abandonar o Karatê e seguir para o Jiu Jitsu, que seria a porta de entrada para começar a competir em lutas lhe rendessem algum dinheiro.

A maior academia de Salvador o recebeu de braços abertos, ali ele cresceu e se desenvolveu e em menos de um ano, estava disputando campeonatos e sendo campeão. No desespero para melhorar a sua vida financeira, se inscreveu contra a vontade do seu mestre de Jiu Jitsu em um campeonato nacional de artes marciais mistas, logo em sua primeira luta, levou a maior surra da sua vida, perdeu por nocaute que o deixou inconsciente por alguns minutos e também sem alguns dentes, o seu adversário na ocasião, um amazonense, embora tivesse a mesma idade e peso, era muito mais alto e experiente naquele tipo de combate, não precisou de mais de um minuto para colocá-lo para dormir.

Desanimado e com o rabo entre as pernas, volta a treinar na academia de Jiu Jitsu, só que agora, ele sabia não ser invencível e que tinha muito para aprender e treinar. E, logo começaram a vir os resultados positivos, como estava indo muito bem nos campeonatos brasileiros de Jiu Jitsu, foi convidado para ir treinar em uma grande academia da cidade do Rio de Janeiro – RJ.

Agora ele já recebia uma pequena ajuda de custo da Academia, que dava para ele se manter, e assim, mais uma nova etapa se abria em sua vida, as das lutas de Artes Marciais mistas, o popular vale-tudo, Luizinho ganhou a sua primeira luta nessa nova modalidade, contra um desafiante mais experiente e naquele mesmo campeonato foi declarado campeão.

Luizinho sempre que podia visitava aos pais, ajudando-os financeiramente e pensava em um dia retornar para Salvador.

Após aquele título, não havia perdido mais nenhum combate, a situação financeira começava a melhorar, até que chegou o grande dia de disputar o cinturão de campeão brasileiro dos pesos pena, o seu adversário e atual campeão era justamente aquele amazonense para quem havia perdido a sua primeira luta.

No dia da disputa, Luizinho estava confiante, aquela derrota do passado o motivava ainda mais. A luta foi dura, porém, Luizinho fora mais uma vez derrotado, só que agora no último assalto e faltando apenas 20 segundos para o fim, infelizmente novamente foi nocauteado, agora com um cruzado de direita que o fez beijar a lona. O campeão brasileiro foi impiedoso.

Aquela derrota, ao invés de desanimá-lo, teve um efeito contrário em Luizinho, o fez treinar as raias do absurdo. O amazonense e até então campeão invicto, deixou o Brasil e foi disputar os campeonatos de MMA nos EUA., sagrando-se campeão. Enquanto isso, no Brasil Luizinho é declarado campeão dos pesos pena e segue os passos do campeão anterior e começa ele também a sua trajetória internacional.

Após 13 lutas no MMA nos E.U.A, na qual venceu todas por nocaute, se habilita para disputar o título de campeão mundial dos pesos pena, novamente contra o seu carrasco o amazonense que nunca perdeu uma luta no MMA., e essa já seria a terceira vez que colocaria o seu título em disputa.

Luizinho durante três meses, treinou duro, seus sparrings sofriam com ele, estava decidido que nunca mais iria perder uma luta, ainda mais para aquele que vem a ser o seu carrasco.

Faltando uma semana para a grande luta, o seu oponente durante um treino fratura três costelas, sendo impedido de disputar o combate. O terceiro no ranking é chamado para aquela luta, na qual Luizinho sagrou-se campeão interino.

Na sequência, o atual campeão, toma a decisão de subir de categoria, e, dessa forma, Luizinho foi declarado campeão dos pesos pena.

Mas, um sentimento de desânimo tomou conta de Luizinho, pelo fato de verdadeiramente nunca ter conseguido superar o campeão. Assim, depois de mais um ano e na impossibilidade de também ele subir de categoria devido a sua compreensão física, deixa o MMA como campeão invicto.

Financeiramente estável, volta para Salvador – Bahia, inaugura a sua academia ao mesmo tempo em que começa um trabalho voluntário com as crianças na mesma escola onde tudo começou, e de cara se encanta por Amandinha uma menininha mirrada com 11 anos de idade e com o mesmo olhar de Luizinho.

Essa promete, pensou Luizinho.

Silvio Klinguelfus Junior

3 de junho de 2020

A DOR NA SOLIDÃO




Passava um pouco mais das onze horas da noite, quando Augusto acorda de súbito, acometido de uma dor insuportável no peito, seguida de calafrios. Não conseguia se mexer, o inseparável telefone celular a apenas um esticar de braços de distância, estava agora totalmente inatingível.

Suando frio, pensou consigo mesmo, que a sua hora havia chegado. Augusto um solteirão convicto, que hoje conta com 68 anos idade, sempre adorou morar sozinho, embora tenha um relacionamento com Marlene há mais de cinco anos, para ele é cada um na sua casa.

A dor só aumentava, Augusto já havia rezado todas as orações que lhe foram ensinadas, na realidade, não conseguia terminar nenhuma delas. A cada espasmo de dor, a única coisa que ele conseguia fazer era ver as horas no despertador que fica na cômoda ao lado da cabeceira da sua cama e já se haviam passado quase dez minutos daquela dor agonizante.

Passou por sua mente a falta que faz alguém em sua vida naquele momento, se lembrou de Marlene, sempre atenciosa, se ali estivesse, nesse tempo, com certeza ele já estaria dentro de um hospital, se lembrou dos seus irmãos sempre tão solícitos, todos a apenas um toque no aparelho celular que jaz ali ao lado da sua cama.

Fechou os olhos e imediatamente um filme começou a passar por sua mente, desde os tempos de infância até o presente momento, reviu mentalmente todas as pessoas que lhe foram importantes durante a sua vida, se despediu de todos de forma carinhosa e de repente seus olhos se encheram de lágrimas e que logo virou um choro compulsivo e seguido de muitos soluços.

Momentaneamente se esqueceu daquela dor lancinante, achou que estava delirando, a sua mãe já falecida estava ali, bem diante dos seus olhos. Augusto perguntou: Mãezinha querida a senhora veio me buscar? A mãe balançou a cabeça negativamente e mexia a boca como se estivesse pronunciando alguma coisa, que ele não conseguia decifrar.

Mãe me perdoe por todas as vezes que eu a magoei e a decepcionei, me ajude mãezinha, me ajude.

E do nada como o rimbombar de um trovão, ele ouve a voz da sua mãe, que gritando, determina: Cala a boca Augustinho, seja homem, você não está tendo um ataque cardíaco, são só gases resultado da feijoada que o imbecil resolveu comer agora a noite.

Não pode ser mãe! Claro que é Augustinho, peida logo, menino lazarento, senão te encho de porrada.

Mãe... Mãe... Mãe, por favor, não vá embora...

Emocionado Augusto consegue se virar na cama e uma sinfonia de todos os tipos de peidos começam a esvaziar a sua dor.

Só então Augusto percebe que na realidade ele estava sonhando e como um gato dá um pulo da cama, pois, pelo visto este último peido vem acompanhado.

Meoooooooooooooooo Deollllssssssssssssssssss

Silvio Klinguelfus Junior