Três
horas da manhã e antes do despertador tocar, Antônio já está acordado, levanta
sem fazer barulho, toma um banho e aproveita para se barbear no chuveiro, se
arruma, dá um beijo na esposa, uma olhadela no quarto do filho, coloca água
para ferver, a sua casa fica em uma esquina, de um bairro da cidade de Apucarana
– PR., assim que abre a porta de serviço, já consegue avistar imediatamente a
sua ferramenta de trabalho estacionada pegando praticamente toda a extensão da sua
casa, trata-se de um caminhão Mercedes Benz L-1313 ano 1.975, antes mesmo que a
água ferva, ele já está fazendo funcionar o motor para carregar o sistema pneumático
dos freios, volta para a cozinha, passa o café em um coador de pano, enche a
garrafa térmica, prepara alguns lanches e os acondiciona em um pequeno isopor, toma
o café na companhia da esposa e do filho e despede-se com um grande abraço,
pega a sua capanga, verifica os documentos, dinheiro e o velho revolver smith
& wesson calibre 32 seu companheiro inseparável de viagem.
A rotina
se repetia praticamente todas as segundas-feiras e não era conhecida apenas pela
família, bem como de todos os vizinhos, que sempre acordavam cedo nesses dias,
com as famosas descargas de ar-comprimido e o cheiro de óleo diesel, alguns até
gostavam, outros reclamavam, mas como Antônio era bem quisto pelos vizinhos,
todos compreendiam o esforço desse trabalhador para garantir o sustento da sua
família.
O caminhão
que já fora carregado na noite anterior estava pronto para seguir o seu destino
inicial até Brasília – DF., já o caminho de volta quase sempre era
desconhecido, dependia muito da carga que Antônio conseguisse para retornar.
Assim,
pontualmente as cinco horas da manhã, Antônio deixava Apucarana para trás e
segue rumo ao seu destino, quase dezesseis horas depois, encosta o seu caminhão
no pátio da transportadora do Sr. José Alípio, já passa das vinte e uma horas,
agora é descansar na própria boleia, aguardar amanhecer o dia para descarregar
e verificar se consegue algum frete para retornar.
O dono
da transportadora sabedor dessa necessidade, sempre procurava se informar antecipadamente
por cargas para Antônio e naquela manhã não foi diferente, tinha um frete excelente
para o Município de Criciúma – SC., e naquela mesma manhã Antônio deixa
Brasília e segue para Criciúma, são mais 1.800 km pela frente e dois dias de
viagem, sendo necessário parar para dormir em algum posto de combustível pela
estrada.
Estamos
no ano de 1.977, naquela época a violência não era tão grande como a de hoje em
dia e a maioria dos fretes eram pagos em dinheiro, assim, Antônio já estava com
uma quantia considerável em dinheiro escondida na boleia do seu caminhão,
quando chegou em Criciúma iria voltar para casa sem se preocupar com outra
carga, tamanho foi o valor do frete que havia recebido, entretanto, surgiu uma
carga para ser levada, metade para Lages – SC e a outra metade para Maringá –
PR., cidade praticamente vizinha a sua Apucarana, não pensou duas vezes, como a
carga era leve, não hesitou em seguir pela Serra do Rio do Rastro, a outra
opção aumentava consideravelmente a distância, assim partiu, na manhã seguinte,
de retorno para a casa, já era quinta-feira, uma manhã ensolarada, mas, fria no
Sul do país.
Quando
Antônio começou a subir a serra do rio do rastro, a estrada estava praticamente
deserta, era por volta das sete horas da manhã, a velocidade máxima que ele
conseguia desenvolver na serra era entre 10 a 15 km/h, em uma das dezenas de curvas
desta estrada, ela era tão fechada e íngreme que praticamente teve que parar o caminhão
para conseguir contorna-la, e nesse instante 02 homens armados invadiram a boleia.
Amarraram
Antônio e o jogaram pela porta diretamente em um precipício e seguiram viagem
subindo a serra, enquanto reviravam a
boleia, encontram a arma e a capanga com os documentos, mas praticamente sem
dinheiro, que é o que eles buscavam, se arrependeram na mesma hora de ter
jogado o motorista pela janela sem revista-lo, provavelmente, o dinheiro estava
com ele, pois a informação do segurança da transportadora de Criciúma foi que
teria recebido em espécie pelo pagamento do frete.
Os
bandidos estavam com duas opções, voltar e procurar pelo corpo do motorista
naquele precipício ou seguir e tentar vender o caminhão e a carga, sendo que
essa segunda opção não era a praia deles além do fato de envolver muitos riscos
de serem descobertos. Assim que terminaram de subir a serra, uma terceira
pessoa os aguardavam em carro, estacionaram o caminhão ao lado de um mirante,
explicaram a situação ao cúmplice e resolveram voltar e procurar pelo
motorista.
Antônio
que momentos antes de ser arremessado no precipício havia implorado pela sua vida
em nome de Jesus Cristo e de Nossa Senhora, estava agora milagrosamente vivo e
apoiado sobre um pequeno platô na beira do penhasco, não acreditava no que havia
acontecido, sofrera apenas pequenos arranhões, agradeceu a Jesus e a Nossa Senhora,
enquanto escalava de volta para a estrada, pensou em tudo, no sacrifício em
adquirir o caminhão, no dinheiro escondido na boleia, mas, estava realmente
grato por estar vivo, pensava em como recomeçar uma outra vida, e assim que
conseguiu chegar no pequeno muro que ladeia à estrada, se deparou com uma
viatura da polícia rodoviária federal estacionada justamente naquele local, o
policial havia parado para urinar e quase o fez nas calças, quando avistou
Antônio saindo do mato, tamanho foi o susto.
Tudo
explicado o policial passa um rádio para as demais viaturas e postos rodoviários,
o alerta foi dado, como Antônio aparentemente estava bem, resolveram subir a
serra, que foi o sentido que o caminhão seguiu, não demorou muito para que o
carro em que os bandidos estavam quase colidisse com a viatura, o que exigiu
muita perícia por parte do policial, entretanto, o motorista do carro contrário
não tinha a mesma destreza e acabou se perdendo durante a manobra e batendo de
frente contra um paredão de pedra.
Imediatamente
desceram em socorro às vítimas, duas das quais imediatamente reconhecidas por Antônio,
que avisou ao policial, que tomou uma postura completamente diferente,
conseguiram imobilizar todos os bandidos que estavam desacordados. Antônio viu
a sua capanga e a arma caídos no chão do carro, pediu autorização ao policial
para pegar os seus pertences e aproveitou para ver se o dinheiro estaca com
eles, tudo supervisado pelo homem da lei.
Quando
um dos homens acordou, contou tudo, logo outras viaturas chegaram, e levaram Antônio
até o seu caminhão, que após as praxes e diligências necessárias, foi autorizado
a seguir viagem.
Depois
de entregar a última carga em Maringá – PR., agora a menos de 100 km da sua casa,
começou a reviver mentalmente tudo o que havia passado e naquele dia, ao chegar
em sua casa, não se preocupou em fazer a verificação normal do caminhão, entrou
de imediato, se ajoelhou diante do pequeno altar que tinha na sala de sua casa,
e agradeceu a Deus pela sua vida, e sob o olhar de espanto da esposa e filho, e
sob as bênçãos de Deus, toma uma decisão que mudaria para sempre a sua vida.
Comunicou
que a partir daquele dia não seria mais motorista de caminhão, e assim o fez.
Vendeu o caminhão com o dinheiro comprou outro arrumou e o revendeu, assim
surgiu o que é hoje uma das maiores revendedoras de caminhões do Sul do Brasil.
Silvio
Klinguelfus Júnior
Arrepiante! Só Jesus pra deixar essa história linda!! Um grande abraço.
ResponderExcluirMárcia Tanus