Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

29 de maio de 2020

INVESTINDO NO FUTURO.



Estamos no ano de dois mil e cinco, Antônio é proprietário de uma pequena oficina mecânica na cidade de Santo André – SP., cuja renda auferida não está sendo suficiente para arcar com todas as despesas da família, em especial, pelo fato da sua esposa estar em tratamento contra um câncer de mama bem agressivo.

Antônio já vivenciou outra realidade, no começo dos anos dois mil, era proprietário de uma oficina de porte médio para grande, tinha 30 funcionários, tirava um pró-labore significativo, conseguia pagar os estudos dos filhos, plano de saúde de primeira linha para todos, a oficina ficava em prédio próprio, assim como também o era a sua casa.

Pensando em crescer ainda mais, se iludiu com a oferta para prestação de serviço a uma seguradora de grande porte, o que exigiu dele um investimento altíssimo, sendo que foi necessário ir ao mercado conseguir crédito para adequar a sua oficina aos padrões exigidos, o que acabou sendo feito, porém, teve que  dar o prédio da oficina bem como a sua casa como garantia do empréstimo.

Infelizmente ao terminar toda a adequação da oficina, passados menos de seis meses a seguradora alegando mudança de estratégia rompeu o contrato, deixando Antônio literalmente na mão, não tendo como honrar com seus compromissos, acabou falindo em menos de um ano, perdendo todos os seus bens.

Voltando ao ano de dois e mil cinco, Antônio acaba de deixar a esposa para mais uma sessão de quimioterapia em um hospital público de Santo André – SP., ficando de retornar no final da tarde para buscá-la.

De volta a sua pequena oficina, onde trabalha com o seu filho mais velho de 25 anos de idade, já o filho mais novo com 21 anos de idade, está cursando o último ano da faculdade de engenharia elétrica e faz estágio há dois anos em uma grande empresa multinacional instalada na cidade, com grandes chances de ser contratado. O filho mais velho teve que abandonar o curso de engenharia mecânica, por falta de condições financeiras. Antônio cumprimenta o filho, e segue para o pequeno escritório localizado nos fundos da oficina, verifica os boletos em atraso, vê os que conseguirá pagar naquele mês, são bem poucos, ao abrir a gaveta para guardar os boletos que não serão pagos, vê um cartão de aposta da Mega Sena, que já havia corrido a duas semanas e ele ainda não tinha conferido.

Separa os boletos que vão ser pagos e mais o cartão de aposta. Começa o seu dia na oficina, o tempo passa depressa, logo é hora do almoço, Antônio pega os boletos e o cartão de aposta e segue até ao banco, faz os pagamentos e em seguida passa na lotérica. Olha uma vez, não acredita, olha a segunda, não pode ser, limpa os olhos, verifica de novo, não é possível, ele sem sombra de dúvidas era o ganhador. A euforia tomou conta, se controlou, guardou o cartão, já estava na hora de pegar a esposa no hospital, assim o fez e retornou para casa.

Naquela noite não dormiu direito, amanhecendo o dia, se arrumou, disse a família que o advogado o havia chamado para falar sobre a ação que movia contra a seguradora, e com essa desculpa seguiu para a agência da Caixa Federal, onde foi informado pelo gerente que o prêmio total daquele sorteio fora de cinquenta e um milhões de reais e que teve apenas cinco ganhadores, o que dava a ele a bagatela de R$10.200.000,00.

Antônio tomou uma decisão naquele momento de não contar a absolutamente ninguém, pediu sigilo absoluto ao gerente, deu carta branca a ele para que fosse feito os investimentos necessários. José que tinha acabado de ser promovido a gerente não acreditava na sorte que teve em atender aquele senhor, assim Antônio, deixou investido em várias aplicações conforme orientações do gerente o valor de R$9.500.000,00 e o restante deixou em uma conta corrente.

De volta a sua casa, disse que havia ganho a ação de indenização contra a seguradora no valor de R$700.000,00, cuja quantia seria suficiente para pagar o tratamento contra o câncer em um hospital particular e que o filho poderia retornar a cursar engenharia e ainda sobraria dinheiro para reformar a pequena oficina.

O tempo foi passando, a mulher de Antônio se curou, os filhos se formaram e começaram a vida profissional, e a oficina cresceu.  

Agora estamos no ano de dois mil e dezenove, Antônio está prestes a completar 70 anos de idade, e as únicas regalias que se concedeu de todo aquele dinheiro foi a aquisição de uma chácara, localizada em um condomínio na serra do mar, seu refúgio nesses últimos quinze anos, lá viveu e ainda vive momentos felizes com a sua esposa, filhos e agora netos. E a outra aquisição foi um fusca 1964, placa preta, que cuida com todo carinho do mundo.

Antônio decidiu que na festa em comemoração dos seus 70 anos de idade, irá contar sobre o prêmio da loteria que havia ganho há 15 anos, e da sua felicidade em ter a esposa ao seu lado e em ver os filhos transformados em pessoas responsáveis e pais de família. Para isso, precisava saber o quanto aquelas aplicações tinham-lhe rendido, ao chegar no Banco e se identificar, o gerente geral da agência veio ao seu encontro, e para a surpresa de Antônio, era o mesmo gerente da época em que abriu a conta:

- José não acredito que você ainda está por aqui!

- Nem me fale Antônio, mas, sou eu que não acredito que em todos esses anos, o senhor não tenha sacado um centavo sequer daquele dinheiro.

- Você cuidou bem dele para mim José?

- Claro que sim! Bati todas as minhas metas nos últimos quinze anos graças ao senhor.

- E quanto eu tenho José?

- O senhor tem até o presente momento a quantia de aproximadamente trinta e seis milhões de reais.

- Acho que já dá para gastar um pouquinho.

- Também acho.

- José os meus filhos ainda têm conta aqui, correto?

- Eles possuem sim.

- Por favor, separa para mim R$700.000,00 e divida o restante na conta dos dois.

- Será feito Antônio.

- Obrigado José.

Durante a festa de aniversário, Antônio chama a esposa e dois filhos para a sala, conta toda a história, entrega nas mãos dos filhos os comprovantes de transferências.

A esposa e os filhos estão espantados e sem palavras.

Antônio quebra o silêncio, me perdoem não ter contado antes, mas que eu saiba ninguém aqui passou necessidade alguma nesses quinze anos. Passamos?

Não. Responderam unânimes.

Da mesma forma que eu me deixei levar uma vez pela minha ganância e fui a falência total, fazendo todos sofrerem, principalmente a mãe de vocês, fiquei com medo que não conseguisse que os meus filhos se tornassem homens de fibra se a vida lhes fosse fácil demais.

Peço desculpas a todos, mas, vocês são o meu prêmio maior.

Todos se emocionaram e agradeceram ao pai e ao marido, que sempre esteve presente em todos os momentos daquela família

Antônio pergunta aos filhos, o que vocês vão fazer com todo esse dinheiro?

Pai, pelo visto o gerente José, vai continuar batendo as suas metas por muito tempo.

Silvio Klinguelfus Junior

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