O sol já
estava a pino e mesmo assim o frio era cortante na serra da Mantiqueira,
Antônio tentava se aquecer nos raios solares que penetravam a densa floresta de
pinheiros que rodeava a pequena casa localizada na zona rural de Campos do
Jordão – SP.
A
madrugada anterior fora tão fria, que os termômetros chegaram a marcar 5º graus
negativos e mesmo agora, com o dia ensolarado, as partes que não receberam a
luz solar devido as sombras das árvores encontram-se completamente cobertas por
gelo.
Era
domingo, sua esposa já começara a preparar o almoço, os filhos que durante a
semana estudam no período matutino, aproveitam para ficarem mais tempo na cama.
Assim, aquecendo-se ao sol, tentava imaginar o que poderia ter sido o barulho
que havia ouvido na noite anterior, um som estranho, como se algo muito grande
houvesse sido jogado no rio.
Desde
bem cedo explorou as redondezas, foi até a margem do pequeno rio que corta a
propriedade e não achou nada de diferente ou estranho. No caminho aproveitou para
apanhar alguns pinhões, iguaria muito apreciada pela sua família, observou os
vizinhos seguindo para a Igreja localizada na pequena vila que compõe aquela
região rural da cidade, cumprimentou-os, perguntou se alguém tinha escutado algum
barulho diferente durante a noite, tendo sido a resposta negativa, meio que
conformado, retornou a sua casa, encontrou a esposa já tomando o café,
rapidamente se arrumaram e seguiram eles também para a Igreja.
Na
igreja ouviram atentamente o sermão do padre e o pedido para que rezassem pelo
casal Oliveira, que no meio da madrugada de ontem foram as pressas para o
hospital, para o nascimento do primeiro filho deles.
De
volta de seus pensamentos, ali parado no jardim da sua casa, agradecido a Deus
por mais esse novo dia, obedece de bom coração o chamado da esposa para
almoçarem, quando de repente tem a impressão de ouvir o som do choro de uma
criança bem ao longe, aguçou os sentidos, e não deu outra, lá estava o choro
abafado e distante, mas com certeza o choro de uma criança, reuniu a esposa e
os três filhos adolescentes, pediu para fizessem silêncio e que prestassem
atenção, enfim, todos começaram a ouvir.
Seguiram
em direção ao som daquele choro, desceram uma ribanceira que margeava uma parte
da estrada, chegaram até as margens do rio, o choro aumentava, Antônio já havia
estado naquele lugar pela manhã e nada tinha visto, estranhamente o choro agora
vinha de cima, quando Antônio ergueu a cabeça, levou um susto, observou que pendurado
entre as árvores estava um carro.
De
imediato reconheceu o veículo, sabia que era do casal Oliveira, rapidamente
ligou os fatos, pediu para os dois filhos menores irem atrás de ajuda, enquanto
com a ajuda do mais velho, começou a subir as árvores, ao se aproximar, pode
ver que o motor do carro havia se desprendido do chassi, imaginou que provavelmente
esse fora o barulho que ouviu de madrugada.
Ao
alcançar o veículo e olhar dentro dele, pode ver o marido desfalecido com a
cabeça apoiada no volante, no banco de trás a mulher também desacordada e
coberta de sangue, e bem ali diante dos seus olhos, uma criança recém-nascida,
toda enrolada em uma coberta apenas com a cabeça para fora e que berrava a
pleno pulmões. O fato de a criança estar enrolada na coberta, denota que pelo
menos a mãe estava acordada e que teve forças para fazer o parto.
O medo
de Antônio naquele momento, é que ao mexer no carro, pudesse fazê-lo despencar
de uma vez, examinou a situação e observou que conforme o carro caiu na
ribanceira ele veio quebrando algumas árvores, que acabaram formando uma
espécie de tablado que acabou apoiando-o em uma posição praticamente
horizontal. Dessa forma, seguro de que o carro não corria um risco imediato de cair,
conseguiu abrir a porta, apanhou o bebê e desceu lentamente até que pudesse passá-lo
para a esposa, que imediatamente seguiu para a casa.
Nesse
momento os filhos retornaram com ajuda, praticamente todos os moradores da
região, estavam ali, alguns mais precavidos haviam trazido cordas que foram
utilizadas para amarrar e estabilizar de vez o veículo, optaram por não retirar
o casal do carro, poderia haver o risco de lesões irreversíveis na coluna caso
eles ainda estivessem vivos, não demorou muito e o resgate chegou, observaram através
do sinais vitais que o casal estava vivo, porém, inconscientes, imobilizaram
corretamente e durante a remoção a mulher acordou de súbito e desesperadamente
começa a gritar que a sua filha também estava no carro, Antônio que nesse
momento estava ao lado dela, diz com calma que a criança está bem, que foi ela
que os salvou com o seu choro, a mãe agradece com o olhar e novamente
desfalece.
Encaminhados
para o Hospital, o casal e a filha se recuperaram logo, e de volta ao vilarejo
foram recebidos com muito carinho por todos, com o bebê no colo se dirigiram a
casa de Antônio, que emociou-se ao vê-los bem. O casal agradeceu a ajuda, e
comunicaram que a criança foi registrada com o nome de Maria Antônia, em
homenagem a ele e Mãe de Jesus, e que se a família concordasse eles gostariam muito
que fossem os padrinhos da sua filha.
A
emoção tomou conta, e todos naquele instante celestial, regozijaram-se e
renderam graças a Deus, tanto do lado de cá como do lado de lá, enquanto isso,
eflúvios de luz caiam dos céus, formando uma cascata a derramar bençãos sobre
os moradores daquela região, aquecendo os seus corações em mais uma manhã fria
de inverno em Campos do Jordão.
Silvio
Klinguelfus Júnior
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