Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

26 de abril de 2020

MILAGRE NA SERRA DA MANTIQUEIRA





O sol já estava a pino e mesmo assim o frio era cortante na serra da Mantiqueira, Antônio tentava se aquecer nos raios solares que penetravam a densa floresta de pinheiros que rodeava a pequena casa localizada na zona rural de Campos do Jordão – SP.


A madrugada anterior fora tão fria, que os termômetros chegaram a marcar 5º graus negativos e mesmo agora, com o dia ensolarado, as partes que não receberam a luz solar devido as sombras das árvores encontram-se completamente cobertas por gelo.


Era domingo, sua esposa já começara a preparar o almoço, os filhos que durante a semana estudam no período matutino, aproveitam para ficarem mais tempo na cama. Assim, aquecendo-se ao sol, tentava imaginar o que poderia ter sido o barulho que havia ouvido na noite anterior, um som estranho, como se algo muito grande houvesse sido jogado no rio.


Desde bem cedo explorou as redondezas, foi até a margem do pequeno rio que corta a propriedade e não achou nada de diferente ou estranho. No caminho aproveitou para apanhar alguns pinhões, iguaria muito apreciada pela sua família, observou os vizinhos seguindo para a Igreja localizada na pequena vila que compõe aquela região rural da cidade, cumprimentou-os, perguntou se alguém tinha escutado algum barulho diferente durante a noite, tendo sido a resposta negativa, meio que conformado, retornou a sua casa, encontrou a esposa já tomando o café, rapidamente se arrumaram e seguiram eles também para a Igreja.


Na igreja ouviram atentamente o sermão do padre e o pedido para que rezassem pelo casal Oliveira, que no meio da madrugada de ontem foram as pressas para o hospital, para o nascimento do primeiro filho deles.


De volta de seus pensamentos, ali parado no jardim da sua casa, agradecido a Deus por mais esse novo dia, obedece de bom coração o chamado da esposa para almoçarem, quando de repente tem a impressão de ouvir o som do choro de uma criança bem ao longe, aguçou os sentidos, e não deu outra, lá estava o choro abafado e distante, mas com certeza o choro de uma criança, reuniu a esposa e os três filhos adolescentes, pediu para fizessem silêncio e que prestassem atenção, enfim, todos começaram a ouvir.


Seguiram em direção ao som daquele choro, desceram uma ribanceira que margeava uma parte da estrada, chegaram até as margens do rio, o choro aumentava, Antônio já havia estado naquele lugar pela manhã e nada tinha visto, estranhamente o choro agora vinha de cima, quando Antônio ergueu a cabeça, levou um susto, observou que pendurado entre as árvores estava um carro.


De imediato reconheceu o veículo, sabia que era do casal Oliveira, rapidamente ligou os fatos, pediu para os dois filhos menores irem atrás de ajuda, enquanto com a ajuda do mais velho, começou a subir as árvores, ao se aproximar, pode ver que o motor do carro havia se desprendido do chassi, imaginou que provavelmente esse fora o barulho que ouviu de madrugada.


Ao alcançar o veículo e olhar dentro dele, pode ver o marido desfalecido com a cabeça apoiada no volante, no banco de trás a mulher também desacordada e coberta de sangue, e bem ali diante dos seus olhos, uma criança recém-nascida, toda enrolada em uma coberta apenas com a cabeça para fora e que berrava a pleno pulmões. O fato de a criança estar enrolada na coberta, denota que pelo menos a mãe estava acordada e que teve forças para fazer o parto.


O medo de Antônio naquele momento, é que ao mexer no carro, pudesse fazê-lo despencar de uma vez, examinou a situação e observou que conforme o carro caiu na ribanceira ele veio quebrando algumas árvores, que acabaram formando uma espécie de tablado que acabou apoiando-o em uma posição praticamente horizontal. Dessa forma, seguro de que o carro não corria um risco imediato de cair, conseguiu abrir a porta, apanhou o bebê e desceu lentamente até que pudesse passá-lo para a esposa, que imediatamente seguiu para a casa.


Nesse momento os filhos retornaram com ajuda, praticamente todos os moradores da região, estavam ali, alguns mais precavidos haviam trazido cordas que foram utilizadas para amarrar e estabilizar de vez o veículo, optaram por não retirar o casal do carro, poderia haver o risco de lesões irreversíveis na coluna caso eles ainda estivessem vivos, não demorou muito e o resgate chegou, observaram através do sinais vitais que o casal estava vivo, porém, inconscientes, imobilizaram corretamente e durante a remoção a mulher acordou de súbito e desesperadamente começa a gritar que a sua filha também estava no carro, Antônio que nesse momento estava ao lado dela, diz com calma que a criança está bem, que foi ela que os salvou com o seu choro, a mãe agradece com o olhar e novamente desfalece.


Encaminhados para o Hospital, o casal e a filha se recuperaram logo, e de volta ao vilarejo foram recebidos com muito carinho por todos, com o bebê no colo se dirigiram a casa de Antônio, que emociou-se ao vê-los bem. O casal agradeceu a ajuda, e comunicaram que a criança foi registrada com o nome de Maria Antônia, em homenagem a ele e Mãe de Jesus, e que se a família concordasse eles gostariam muito que fossem os padrinhos da sua filha.


A emoção tomou conta, e todos naquele instante celestial, regozijaram-se e renderam graças a Deus, tanto do lado de cá como do lado de lá, enquanto isso, eflúvios de luz caiam dos céus, formando uma cascata a derramar bençãos sobre os moradores daquela região, aquecendo os seus corações em mais uma manhã fria de inverno em Campos do Jordão.

Silvio Klinguelfus Júnior

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