Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

22 de abril de 2020

De volta para a vida.




Abandonada pelo noivo em pleno altar, mesmo depois de cinco anos, não conseguiu seguir sua vida adiante.

Moradora de São Paulo – Capital, hoje com 30 anos de idade, Maristela é uma mulher bonita, mas leva em seu olhar o rancor intrínseco, que ofusca a sua beleza, tornou-se seca e monossilábica.

Antes, porém, era uma moça extrovertida, tinha muitos amigos, recém-formada em Direito, já atuava em um conceituado escritório de advocacia, onde conheceu o seu noivo.

Infelizmente o seu noivo era uma dessas pessoas que não medem as consequências dos seus atos, em um desses gestos, depois de muito beber, colocou uma bala na sua própria cabeça, meia hora antes do seu casamento.

Este gesto não só acabou com a vida dele próprio, mas também com a vida de Maristela, que perdeu a vontade de viver e se tornou praticamente uma morta viva.

Sua família tentou de tudo para que ela melhorasse, levaram a terapeutas, psicólogos, psiquiatras, pastores, padres, anciões e tudo mais.

E assim o tempo foi passando até que Maristela se tornasse uma pessoa praticamente invisível, como se ela não existisse mais, passava desapercebida até mesmo pela própria família.

Filha única, morava sozinha em um pequeno apartamento que o seu pai lhe havia dado como presente de casamento, passou a viver como tradutora de livros dos idiomas espanhol e inglês para o português. Trabalhava para uma grande editora, recebia o suficiente para a sua vida monástica, não precisa sair, tudo era home-office. As traduções englobavam romances e livros técnicos da área jurídica.

Um desses livros que chegou até as suas mãos para ser traduzido, era de um autor venezuelano, que acabará de lançar o seu primeiro livro, contando a história da sua vida e do sofrimento que o seu país vem passando nas últimas duas décadas, nele ele narrava que havia perdido a esposa e os dois filhos, que morreram devido a doenças causadas pela má alimentação, ou melhor, pela falta de alimentação. Ele estava completamente entregue, apenas esperando a morte se aproximar, quando um amigo dele que havia se mudado para o vizinho país da Colômbia, preocupado com o seu sumiço, veio a sua procura, encontrando-o totalmente desnutrido em seu apartamento. Esse amigo o levou para a Colômbia, cruzando a fronteira com ele dentro do porta-malas do seu veículo. Aos poucos foi se recuperando fisicamente, mas mentalmente encontrava-se destruído, vivia como um zumbi.

Maristela ficou cativada imediatamente pela história do autor venezuelano, que em sua narrativa, contou o que o levou a superar a depressão e seguir em frente. Impressionada em um ato impensado, ela pegou a ficha da editora, onde continha o número de telefone pessoal do escritor, procedimento normal, pois muitas vezes o tradutor precisa conversar com o autor, quando em dúvida do sentindo de alguma expressão ou termo, que o tradutor desconheça.

Assim em um arroubo de emoção, ligou para o autor, se identificou e foi logo ao assunto e sem rodeios, contou o motivo da ligação e a sua história.

O autor fora muito simpático, se mostrou empático e a conversa fluiu naturalmente, como há muito tempo não acontecia com Maristela.

O tempo passou e ela novamente entrou na sua rotina, e de quando em vez se lembrava com carinho daquela conversa. Imaginava como o autor daquele livro diante de tanto sofrimento conseguiu seguir em frente, e lembrava das palavras que ele lhe disse.

O interfone interrompe abruptamente os seus pensamentos, era o porteiro avisando que um senhor com alguns livros estava na portaria. Logo ela imaginou ser o entregador da editora, com mais livros para serem traduzidos, sem estranhar, autorizou a entrada da pessoa.

Ao abrir a porta, levou um susto ao reconhecer imediatamente aquele senhor, o autor do livro que tanto a havia impressionado.

Ele disse, sou Alejandro seu amigo venezuelano e que mora na Colômbia, vim até aqui pessoalmente, para lhe dizer que eu me importo contigo e gostaria de vê-la voltar a viver alegremente.

Maristela deixou-se cair aos prantos nos braços de Alejandro, que correspondeu com um abraço que durou alguns minutos.

Aquele sem dúvida foi o dia mais feliz da vida de Maristela, naquele instante, envolta por um abraço onde dois corações sofredores se encontraram, todas as suas mágoas, rancores, tristezas, sofrimento, foram embora carregados pelas lágrimas, devolvendo aos seus olhos a leveza que a muito perdera.

Maristela e Alejandro se tornaram grandes amigos, hoje ela é a tradutora e intérprete oficial do escritor, já viajou com ele para Colômbia e para diversos países onde o seu livro que se tornou um best-seller mundial, é lançado.

A vida para Maristela finalmente voltou aos trilhos.

Silvio Klinguelfus Júnior

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