Abandonada
pelo noivo em pleno altar, mesmo depois de cinco anos, não conseguiu seguir sua
vida adiante.
Moradora
de São Paulo – Capital, hoje com 30 anos de idade, Maristela é uma mulher bonita,
mas leva em seu olhar o rancor intrínseco, que ofusca a sua beleza, tornou-se
seca e monossilábica.
Antes,
porém, era uma moça extrovertida, tinha muitos amigos, recém-formada em
Direito, já atuava em um conceituado escritório de advocacia, onde conheceu o
seu noivo.
Infelizmente
o seu noivo era uma dessas pessoas que não medem as consequências dos seus
atos, em um desses gestos, depois de muito beber, colocou uma bala na sua própria
cabeça, meia hora antes do seu casamento.
Este
gesto não só acabou com a vida dele próprio, mas também com a vida de
Maristela, que perdeu a vontade de viver e se tornou praticamente uma morta
viva.
Sua
família tentou de tudo para que ela melhorasse, levaram a terapeutas, psicólogos,
psiquiatras, pastores, padres, anciões e tudo mais.
E
assim o tempo foi passando até que Maristela se tornasse uma pessoa praticamente
invisível, como se ela não existisse mais, passava desapercebida até mesmo pela
própria família.
Filha
única, morava sozinha em um pequeno apartamento que o seu pai lhe havia dado
como presente de casamento, passou a viver como tradutora de livros dos idiomas
espanhol e inglês para o português. Trabalhava para uma grande editora, recebia
o suficiente para a sua vida monástica, não precisa sair, tudo era home-office.
As traduções englobavam romances e livros técnicos da área jurídica.
Um
desses livros que chegou até as suas mãos para ser traduzido, era de um autor venezuelano,
que acabará de lançar o seu primeiro livro, contando a história da sua vida e
do sofrimento que o seu país vem passando nas últimas duas décadas, nele ele
narrava que havia perdido a esposa e os dois filhos, que morreram devido a
doenças causadas pela má alimentação, ou melhor, pela falta de alimentação. Ele
estava completamente entregue, apenas esperando a morte se aproximar, quando um
amigo dele que havia se mudado para o vizinho país da Colômbia, preocupado com
o seu sumiço, veio a sua procura, encontrando-o totalmente desnutrido em seu
apartamento. Esse amigo o levou para a Colômbia, cruzando a fronteira com ele
dentro do porta-malas do seu veículo. Aos poucos foi se recuperando fisicamente,
mas mentalmente encontrava-se destruído, vivia como um zumbi.
Maristela
ficou cativada imediatamente pela história do autor venezuelano, que em sua
narrativa, contou o que o levou a superar a depressão e seguir em frente. Impressionada
em um ato impensado, ela pegou a ficha da editora, onde continha o número de
telefone pessoal do escritor, procedimento normal, pois muitas vezes o tradutor
precisa conversar com o autor, quando em dúvida do sentindo de alguma expressão
ou termo, que o tradutor desconheça.
Assim
em um arroubo de emoção, ligou para o autor, se identificou e foi logo ao
assunto e sem rodeios, contou o motivo da ligação e a sua história.
O autor
fora muito simpático, se mostrou empático e a conversa fluiu naturalmente, como
há muito tempo não acontecia com Maristela.
O
tempo passou e ela novamente entrou na sua rotina, e de quando em vez se
lembrava com carinho daquela conversa. Imaginava como o autor daquele livro diante
de tanto sofrimento conseguiu seguir em frente, e lembrava das palavras que ele
lhe disse.
O
interfone interrompe abruptamente os seus pensamentos, era o porteiro avisando
que um senhor com alguns livros estava na portaria. Logo ela imaginou ser o
entregador da editora, com mais livros para serem traduzidos, sem estranhar, autorizou
a entrada da pessoa.
Ao
abrir a porta, levou um susto ao reconhecer imediatamente aquele senhor, o autor
do livro que tanto a havia impressionado.
Ele
disse, sou Alejandro seu amigo venezuelano e que mora na Colômbia, vim até aqui
pessoalmente, para lhe dizer que eu me importo contigo e gostaria de vê-la
voltar a viver alegremente.
Maristela
deixou-se cair aos prantos nos braços de Alejandro, que correspondeu com um abraço
que durou alguns minutos.
Aquele
sem dúvida foi o dia mais feliz da vida de Maristela, naquele instante, envolta
por um abraço onde dois corações sofredores se encontraram, todas as suas mágoas,
rancores, tristezas, sofrimento, foram embora carregados pelas lágrimas,
devolvendo aos seus olhos a leveza que a muito perdera.
Maristela
e Alejandro se tornaram grandes amigos, hoje ela é a tradutora e intérprete
oficial do escritor, já viajou com ele para Colômbia e para diversos países
onde o seu livro que se tornou um best-seller mundial, é lançado.
A vida
para Maristela finalmente voltou aos trilhos.
Silvio
Klinguelfus Júnior
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