Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

30 de junho de 2020

A SOCIEDADE




Já passavam das três horas da madrugada e nada do sono chegar. Nelson já tinha assistido a televisão, lido um livro, rezado e nada.

O pior era que o dia estava repleto de compromissos importantes, e uma noite onde conseguisse dormir muito bem, viria a calhar, entretanto, a ansiedade tomou conta, só pensava em como deveria proceder diante de tantas situações que lhe aguardavam.

Assim as horas foram passando e conseguiu cochilar por volta das cinco horas da manhã, mas, logo acordou assustado com o som do alarme do despertador que marcava exatamente 6:15 h.

Parecia que havia levado uma surra, levantou-se com muito custo, tomou um banho, fez a higiene pessoal, se arrumou com esmero, o dia seria puxado, não tinha dúvidas, entretanto, seria recompensador.

Ao chegar à garagem do Edifício onde o seu carro estava estacionado, entrou e deu partida e nada do carro funcionar, pensou consigo mesmo: nada de desespero, vou de taxi.

Chegando ao ponto de taxi que fica próximo a sua residência, não havia nenhum carro, esperou dez minutos e nada, olhou o relógio, fez as contas, se pegar um ônibus até a estação do metrô do Tatuapé, conseguirá chegar com folga ao primeiro e mais importante compromisso do dia.

Rumou ao ponto de ônibus, os quatro primeiros passaram lotados, conseguir pegar o próximo, seguiu espremido até desembarcar na estação do Tatuapé, novamente olhou as horas, já não tinha mais margem para atrasos. Ao descer as escadas de acesso ao terminal, parecia que São Paulo inteira estava se utilizando do transporte público, infelizmente foi preciso muita paciência para conseguir embarcar.

Dentro do vagão, a situação não era diferente a do ônibus, seguiam como sardinhas, para ajudar o ar condicionado não estava dando conta e o calor já beirava o insuportável, quando de repente o metrô para de funcionar, escuridão total, as luzes de emergência se acendem, dez minutos depois o vagão começa a se mover novamente.

Pelas suas contas, já está atrasado, a viagem até a estação Marechal Deodoro que demoraria em média 20 minutos, agora já estava na casa dos 40 minutos.

Já desanimado ao descer na estação Mal. Deodoro, seguiu para o próximo trajeto que seria a pé, são pelo menos cinco quarteirões seguindo em linha reta pela Rua das Palmeiras, até chegar ao Prédio onde fica o seu escritório, assim que começou a caminhada, mais uma surpresa, uma chuva dessas de lavar a alma, não durou mais do que três minutos, tempo suficiente para pegar Nelson no meio do caminho entre a estação e a primeira marquise de um prédio onde poderia se abrigar.

Agora o quadro estava completo, atrasado e ensopado, o que mais poderia acontecer, dessa forma seguiu rumo ao trabalho, começou a mancar, acabará de perder um salto do sapato, que passou boiando pela enxurrada em direção a boca de lobo.

Ao chegar ao prédio onde fica o seu escritório, os três elevadores não estavam dando conta da quantidade de pessoas, as catracas de acesso estavam lotadas, não teve dúvidas, já estava literalmente ferrado, resolveu subir pelas escadas os dez andares, tirou os sapatos, as meias e começou a subir, quando estava no oitavo andar, sua respiração estava ofegante, o coração batia forte e as pernas estavam trêmulas, pensou em desistir, parou um pouco respirou, se curvou, apoiou os braços nas pernas, respirou e resolveu continuar.

A muito custo conseguiu terminar os dois andares que faltavam, as escadas deste edifício davam acesso a parte de trás das salas comerciais, enquanto os elevadores pela parte da frente, somente quando Nelson parou de frente a porta é que se lembrou que emprestará a chave da porta dos fundos para André, seu sócio. O escritório pegava todo o andar e àquela era a única porta de acesso pelos fundos. Os seus funcionários começariam a chegar apenas a partir das nove horas. A pedido do cliente havia marcado a reunião mais cedo. Mesmo assim resolveu bater à porta, obviamente que ninguém atendeu, pois ele seria o primeiro a chegar naquele dia.

Estamos no início do ano de 1.990, os celulares ainda não haviam começado a operar no Brasil. Dessa forma, Nelson não teve alternativa a não ser descer novamente os 10 andares. Durante a descida pensava que o negócio não era para dar certo, já faz dez meses que eles estavam negociando essa parceria, que seria fantástica para o seu escritório, infelizmente depois desse atraso, provavelmente tudo teria ido literalmente por água abaixo, tendo que começar a remar tudo novamente.

Ao chegar ao térreo o segurança que era amigo de Nelson, sorriu ao vê-lo descalço, despenteado, ensopado e esbaforido, sem dar tempo de o segurança falar qualquer coisa, emendou, se abrir a boca, vamos sair no braço, Antônio não aguentou e caiu na gargalhada.

Os elevadores já não estavam tão cheio o próximo período de movimento seria as 9:00 horas, assim, Nelson entrou sozinho no elevador e pode ver quando a porta estava quase se fechando, que entrava no prédio uma mulher correndo, toda molhada com o cabelo escorrido e com os sapatos de salto altos em uma das mãos, a porta se fechou e ele sorriu, novamente olhou para o relógio, 50 minutos atrasado, ninguém esperaria no corredor todo esse tempo, ainda mais se tratando do representante do maior e mais respeitado escritório de advocacia da cidade de São Paulo, quiçá, do Brasil.

As sair do elevador, viu que não tinha ninguém no hall de acesso, se olhou no espelho, estava deplorável, não era para menos que Antônio o segurança havia caído no riso. Assim, resolveu mudar os seus pensamentos, esboçou mais um sorriso, lembrou daquela mulher que estava em situação pior do que a dele.

Nem bem Nelson havia entrado em seu escritório, ouviu algumas batidas a porta, e lá foi ele manquitolando abrir ver quem era, provavelmente deveria ser algum funcionário chegando. Ao abrir a porta, foi surpreendido pela aquela mesma mulher que ele havia visto chegar ao prédio, ela estava em pior estado do que ele, entretanto, ela continuava linda, tratava-se sem dúvida de uma linda mulher.

- Em que posso ajudá-la?

- Tenho uma reunião agendada com o Dr. Nelson e estou atrasada, será que ele poderia me receber, eu sou Valentina, sócia do escritório G & P Advogados e Associados.

- Doutora Valentina, é um prazer recebê-la em meu escritório, eu sou o Dr. Nelson, muito prazer. Me desculpe pelo meu estado.

Os dois riram muito da situação, inacreditavelmente Valentina havia enfrentado problemas semelhantes para chegar até o escritório.

Nelson propôs a Valentina que a eles se recompusessem dentro do possível e que ela o acompanhasse até a uma loja de departamento muito famosa que ficava na esquina.

Assim o fizeram, foram as compras, se arrumaram a contento nos provadores, a loja de departamento, contava ainda com com um salão de beleza completo, o qual Valentina aproveitou para arrumar os cabelos e a maquiagem, enquanto isso Nelson cortou os cabelos e aparou a barba.

Agora recompostos, resolveram atravessar a rua e seguir até uma cafeteria para degustar um excelente café e aproveitaram para se conhecerem melhor.

Depois de muitas risadas ficou acertado entre eles, que a parceria estava firmada, pelo visto para a vida toda, depois de dois anos Valentina e Nelson entravam na Igreja para se casarem, e adivinhem, caiu um temporal e o casamento quase não aconteceu, dos dois se atrasaram...

Silvio Klinguelfus Júnior.


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