Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

21 de junho de 2020

PELAS ESTRADAS DA VIDA




Estamos em meados dos anos setenta, Pedro trabalhava como representante comercial de uma famosa empresa americana de lubrificantes para motores, morador da cidade de São Paulo – SP., o seu raio de atuação englobava todas as cidades margeadas pela Rodovia Presidente Dutra, que liga a cidade de São Paulo a do Rio de Janeiro – RJ., naquela época, ele praticamente levava cinco dias para atender todas as cidades na ida e outros cinco na volta, soma-se a isso, os finais de semana, portanto, ele ficava praticamente uma quinzena fora de casa.

Pedro era solteiro, filho mais velho do casal de italianos Giuseppe e Maria, morava sozinho em um sobrado ao lado da casa dos seus pais no bairro da Mooca na cidade de São Paulo, estava com 25 anos de idade, era um jovem bem afeiçoado e como todo italiano que se preze gostava muito de falar e de gesticular, pontos positivos para a sua profissão, que aliás, ia muito bem, tinha um ótimo salário, comissão pelas vendas, seguro de vida, hospedagem e despesas com alimentação pagas pela empresa, bem como carro do ano e quilometragem livre, o que deixava para ele ao final do mês, praticamente todo o seu salário livre, em cinco anos nessa empresa, conseguiu comprar a vista a sua casa e fazer alguns bons investimentos.

Seus pais já haviam se acostumado com as viagens de Pedro e sempre esperavam ansiosos pelo seu retorno ao lar, principalmente pelas suas histórias e experiências que ele gostava de compartilhar com eles, e também por alguns presentes que trazia para sua mãe, entre eles muitos doces e queijos das regiões visitadas.

Algumas vezes, nessas viagens, Pedro resolvia visitar todas as cidades na viagem de ida, embora corrido, ele tinha uma intenção por de trás disso, ele gostava muito de fazer o percurso de volta pela Rodovia Rio – Santos, curtindo a estrada com o seu carro um Passat ano 1975 tipo exportação e também todas as praias do trajeto, sem contar que adorava parar em uma pousada na cidade de Paraty – RJ., onde a filha dos proprietários era uma paixão a muito correspondida, ficava por lá pelo menos de dois a três dias no mês, aproveitando o namoro com Letícia.

Durante o jantar, na véspera de mais uma viagem para o Rio de Janeiro, Pedro avisou aos pais, que iria trazer Letícia para que eles a conhecessem, pois eles iriam ficar noivos, sua mãe ficou muito feliz com a notícia, pois, ansiava em conhecer a futura nora que certamente iria preencher um enorme vazio em sua vida, uma vez, que o casal havia tido cinco filhos, todos homens e o sonho dela sempre foi ter uma menina.

Assim Pedro seguiu viagem, deixando para trás, pais esperançosos com o seu retorno e de outro lado, Leticia o aguardava ansiosa em Paraty.

Pedro estava exultante, todos os seus clientes perceberam que ele estava diferente e quando lhe perguntavam, ele dizia que iria se casar, logo, logo e todos os cumprimentavam pela decisão tomada.

Quando chegou a Paraty, conforme combinado, o casal comemorou o noivado, deixando os pais de Leticia muito felizes, e o casamento fora marcado para dali a um mês. Essa pressa toda tinha um motivo, Letícia estava grávida o que deixava Pedro ainda mais feliz, mas, resolveram não contar a ninguém em um primeiro momento.

Depois do noivado seguiram rumo a São Paulo, para que Letícia fosse apresentada a família de Pedro, o que aconteceu com muita festa, Dona Maria simplesmente amou a sua nora, imediatamente começou a chamá-la de filha, nascia ali um relacionamento que não tem nenhuma explicação lógica.

Quando levava de volta Letícia para a casa dos pais em Paraty, durante a descida da serra do mar, um acidente envolvendo um caminhão sem freios, acabou jogando o carro de Pedro para fora da estrada em direção a um abismo, Letícia foi arremessada para fora do carro, mas, Pedro afundou juntamente com o carro nas águas caudalosas do Rio Paraibuna  e seu corpo não foi encontrado.

Leticia sobreviveu ao acidente, ficou em coma durante uma semana, mas não perdeu o bebê, teve alguns ferimentos graves, mas se recuperou bem. Ela passou a residir na casa de Pedro, a família que durante o período em que ela estava em coma, foi informada pelo médico do seu estado gravídico, a adotou como filha e a chegada de Luana encheu de alegria aquela família italiana que estava em luto e com o coração partido pela perda do seu primogênito.

A situação econômica estável de Pedro mais o seguro de vida da empresa americana, deixou Letícia e sua filha em uma situação muito cômoda do ponto de vista financeiro, somando-se a isso o amor que elas recebiam da família, principalmente de Dona Maria, que a tratava como uma filha querida, tranquilizava o coração de Letícia quanto ao futuro de Luana.

Dois anos haviam se passado desde o acidente quando uma notícia abalou a estrutura da família, o Pai de Letícia ficou sabendo que um homem sem identificação que estava hospitalizado na cidade de Cunha – SP., saiu do coma depois de dois anos, mas, sem memória. Alguma coisa o levou a pegar o seu carro e subir a Serra que liga Parati a Cunha, para conhecer esse homem. Qual não foi a sua surpresa ao ver que se tratava de Pedro.

Assim que Pedro viu o seu sogro, imediatamente a sua memória voltou e um rio de lágrimas começou a escorrer pela sua face, o seu sogro emocionado também não conteve o choro, ao abraçar Pedro, este lhe perguntou como estavam Letícia e o bebê, ao receber a notícia que ambos passavam bem, não conseguia conter a emoção.

Disse ao sogro se lembrar perfeitamente do acidente, que não teve culpa, que foi colhido por um caminhão em uma das curvas e que viu Letícia ser arremessada para fora do carro e depois apagou.

Em São Paulo uma festa sem precedentes foi armada para receber Pedro, estavam todos lá, até mesmo seus antigos clientes fizeram questão de comparecer.

Ao chegar em companhia dos seus sogros, Pedro ainda em recuperação, não sabia de sorria, se chorava, se ficava preocupado com a saúde dos seus pais ou com a de Letícia, tamanha fora a emoção do reencontro, de repente, seus olhos se cruzaram com a da pequena Luana que estava no colo de Letícia, ao ver aqueles olhinhos perscrutarem a sua alma, sucumbiu a emoção, sabia em seu íntimo que ali estava o motivo de ter continuado vivo.

E em uma prece sentida entre tantos abraços e beijos, agradeceu ao Pai por mais essa oportunidade.

Silvio K. Junior

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