Estamos
em meados dos anos setenta, Pedro trabalhava como representante comercial de
uma famosa empresa americana de lubrificantes para motores, morador da cidade
de São Paulo – SP., o seu raio de atuação englobava todas as cidades margeadas
pela Rodovia Presidente Dutra, que liga a cidade de São Paulo a do Rio de
Janeiro – RJ., naquela época, ele praticamente levava cinco dias para atender
todas as cidades na ida e outros cinco na volta, soma-se a isso, os finais de
semana, portanto, ele ficava praticamente uma quinzena fora de casa.
Pedro
era solteiro, filho mais velho do casal de italianos Giuseppe e Maria, morava
sozinho em um sobrado ao lado da casa dos seus pais no bairro da Mooca na
cidade de São Paulo, estava com 25 anos de idade, era um jovem bem afeiçoado e
como todo italiano que se preze gostava muito de falar e de gesticular, pontos
positivos para a sua profissão, que aliás, ia muito bem, tinha um ótimo salário,
comissão pelas vendas, seguro de vida, hospedagem e despesas com alimentação
pagas pela empresa, bem como carro do ano e quilometragem livre, o que deixava
para ele ao final do mês, praticamente todo o seu salário livre, em cinco anos nessa
empresa, conseguiu comprar a vista a sua casa e fazer alguns bons investimentos.
Seus
pais já haviam se acostumado com as viagens de Pedro e sempre esperavam ansiosos
pelo seu retorno ao lar, principalmente pelas suas histórias e experiências que
ele gostava de compartilhar com eles, e também por alguns presentes que trazia
para sua mãe, entre eles muitos doces e queijos das regiões visitadas.
Algumas
vezes, nessas viagens, Pedro resolvia visitar todas as cidades na viagem de ida,
embora corrido, ele tinha uma intenção por de trás disso, ele gostava muito de
fazer o percurso de volta pela Rodovia Rio – Santos, curtindo a estrada com o
seu carro um Passat ano 1975 tipo exportação e também todas as praias do
trajeto, sem contar que adorava parar em uma pousada na cidade de Paraty – RJ.,
onde a filha dos proprietários era uma paixão a muito correspondida, ficava por
lá pelo menos de dois a três dias no mês, aproveitando o namoro com Letícia.
Durante
o jantar, na véspera de mais uma viagem para o Rio de Janeiro, Pedro avisou aos
pais, que iria trazer Letícia para que eles a conhecessem, pois eles iriam ficar
noivos, sua mãe ficou muito feliz com a notícia, pois, ansiava em conhecer a
futura nora que certamente iria preencher um enorme vazio em sua vida, uma vez,
que o casal havia tido cinco filhos, todos homens e o sonho dela sempre foi ter
uma menina.
Assim Pedro
seguiu viagem, deixando para trás, pais esperançosos com o seu retorno e de
outro lado, Leticia o aguardava ansiosa em Paraty.
Pedro
estava exultante, todos os seus clientes perceberam que ele estava diferente e
quando lhe perguntavam, ele dizia que iria se casar, logo, logo e todos os
cumprimentavam pela decisão tomada.
Quando
chegou a Paraty, conforme combinado, o casal comemorou o noivado, deixando os
pais de Leticia muito felizes, e o casamento fora marcado para dali a um mês. Essa
pressa toda tinha um motivo, Letícia estava grávida o que deixava Pedro ainda
mais feliz, mas, resolveram não contar a ninguém em um primeiro momento.
Depois
do noivado seguiram rumo a São Paulo, para que Letícia fosse apresentada a família
de Pedro, o que aconteceu com muita festa, Dona Maria simplesmente amou a sua
nora, imediatamente começou a chamá-la de filha, nascia ali um relacionamento
que não tem nenhuma explicação lógica.
Quando
levava de volta Letícia para a casa dos pais em Paraty, durante a descida da
serra do mar, um acidente envolvendo um caminhão sem freios, acabou jogando o
carro de Pedro para fora da estrada em direção a um abismo, Letícia foi
arremessada para fora do carro, mas, Pedro afundou juntamente com o carro nas
águas caudalosas do Rio Paraibuna e seu
corpo não foi encontrado.
Leticia
sobreviveu ao acidente, ficou em coma durante uma semana, mas não perdeu o bebê,
teve alguns ferimentos graves, mas se recuperou bem. Ela passou a residir na
casa de Pedro, a família que durante o período em que ela estava em coma, foi
informada pelo médico do seu estado gravídico, a adotou como filha e a chegada
de Luana encheu de alegria aquela família italiana que estava em luto e com o
coração partido pela perda do seu primogênito.
A
situação econômica estável de Pedro mais o seguro de vida da empresa americana,
deixou Letícia e sua filha em uma situação muito cômoda do ponto de vista financeiro,
somando-se a isso o amor que elas recebiam da família, principalmente de Dona
Maria, que a tratava como uma filha querida, tranquilizava o coração de Letícia
quanto ao futuro de Luana.
Dois
anos haviam se passado desde o acidente quando uma notícia abalou a estrutura
da família, o Pai de Letícia ficou sabendo que um homem sem identificação que estava
hospitalizado na cidade de Cunha – SP., saiu do coma depois de dois anos, mas,
sem memória. Alguma coisa o levou a pegar o seu carro e subir a Serra que liga
Parati a Cunha, para conhecer esse homem. Qual não foi a sua surpresa ao ver
que se tratava de Pedro.
Assim
que Pedro viu o seu sogro, imediatamente a sua memória voltou e um rio de
lágrimas começou a escorrer pela sua face, o seu sogro emocionado também não
conteve o choro, ao abraçar Pedro, este lhe perguntou como estavam Letícia e o
bebê, ao receber a notícia que ambos passavam bem, não conseguia conter a
emoção.
Disse
ao sogro se lembrar perfeitamente do acidente, que não teve culpa, que foi
colhido por um caminhão em uma das curvas e que viu Letícia ser arremessada
para fora do carro e depois apagou.
Em São
Paulo uma festa sem precedentes foi armada para receber Pedro, estavam todos
lá, até mesmo seus antigos clientes fizeram questão de comparecer.
Ao
chegar em companhia dos seus sogros, Pedro ainda em recuperação, não sabia de
sorria, se chorava, se ficava preocupado com a saúde dos seus pais ou com a de
Letícia, tamanha fora a emoção do reencontro, de repente, seus olhos se cruzaram
com a da pequena Luana que estava no colo de Letícia, ao ver aqueles olhinhos perscrutarem
a sua alma, sucumbiu a emoção, sabia em seu íntimo que ali estava o motivo de
ter continuado vivo.
E em
uma prece sentida entre tantos abraços e beijos, agradeceu ao Pai por mais essa
oportunidade.
Silvio
K. Junior
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