Dona Adália
com 54 anos de idade, trabalha durante o dia das 6:00 às 12:00 h, como gari nas ruas de
São Paulo e a noite das 18:00 às 24:00 h, como faxineira em um Hospital particular. Com o que recebe
consegue se manter, paga o aluguel, as contas, enche de mimos a sua neta que é
a sua paixão, e ainda consegue guardar um pouco em uma poupança.
Vida
nada fácil, porém, Adália não reclama da rotina diária, por mais estranho que
possa parecer para muitos, ela é uma mulher realizada e feliz, conseguiu criar
a sua filha com dignidade mesmo após o falecimento do seu amado marido, uma das
suas maiores alegria foi vê-la se formar em Letras. E, hoje ver que a sua filha
se tornou uma excelente professora e mãe, completa a sua felicidade.
Se há
alguma coisa que a incomoda em sua vida, talvez seja a invisibilidade social
que ela experimenta diariamente nas ruas de São Paulo, ela passa desapercebida
para milhares de pessoas, como se não existisse, e a noite no Hospital, muitos
pacientes e médicos nem a cumprimentam. Entretanto, ela pensava consigo mesmo,
essas pessoas não sabem o que estão perdendo em não me conhecerem, dava uma risada
e seguia a sua vida. Uma das raras exceções, era um senhor que todos os dias,
passava por ela e lhe desejava um bom dia com um sorriso imenso. Adália sentia
tanta alegria, que procurava sempre naquele horário, varrer a rua no mesmo
local, só para receber o cumprimento daquele senhor, sempre bem vestido com
terno e gravata, que tornava o seu dia especial, e assim que ele passava por
ela, o acompanhava com os olhos e via quando entrava no prédio daquela instituição
bancária, e em seu íntimo o abençoava, desejando que o dia daquele senhor fosse
maravilhoso.
Certa
noite no Hospital, ao começar o seu turno pela ala aonde ficam os pacientes dos
quartos particulares, ao entrar em um deles se deparou com aquele senhor que a
cumprimentava todos os dias, deitado em uma cama, em pé ao seu lado uma senhora
muito simpática, a cumprimentou, disse que podia ficar a vontade, que o seu
marido sofrerá um acidente quando saia do trabalho e que infelizmente agora
estava em coma, mas que não corria risco de morrer. Adália se emocionou o que
foi percebido pela esposa, que lhe perguntou: a senhora conhece o meu marido?
Adália sem saber o que responder, resolveu contar toda a história. E ali,
naquele momento, duas senhoras choravam comovidas. Durante quase um mês, todas
as noites Adália passava naquele quarto, e junto com aquela senhora faziam uma oração
pela recuperação da saúde daquele bom homem. Até que em uma noite ao entrar no
quarto viu aquele senhor sentado na cama, que ao vê-la,
imediatamente abriu o sorriso, aquele mesmo que ela já estava tão acostumada a ver, não
conseguiu conter as lágrimas. O homem que já havia sido informado pela esposa
de todo o ocorrido, chamou-a para perto dele, lhe deu um abraço e lhe disse, obrigado
por tudo, gostaria de me apresentar, eu me chamo Arthur e tenho muito prazer em
oficialmente conhecê-la Adália. Sei que você já conhece a minha esposa Mariana,
e hoje eu quero que você conheça os meus filhos, João, Antônio e Sophia. Todos
se abraçaram e comemoraram a recuperação de Arthur. Adália não tinha palavras
para agradecer tanto carinho recebido por aquela família. Foi difícil para ela
se despedir, mas, precisava continuar o seu trabalho. Arthur novamente a chamou
e lhe disse que a história deles não acabava ali, mas, que ela estava só começando.
E, assim, com o coração batendo forte, Adália cumpriu com as suas funções
naquela noite e seguiu para casa.
Passado
uma semana, enquanto Adália varria a rua, Arthur se aproxima lhe cumprimenta
com aquele sorriso de sempre e lhe dá um grande abraço e a convida para ir
tomar um café com ele no Banco. Ela agradece ao convite, mas, recusa, alegando
não estar vestida de acordo para entrar naquele prédio chique e que também não
podia abandonar o serviço. Não aceito recusas, disse Arthur, pegou-a pela mão e
praticamente a arrastou para dentro do Banco, assim que entraram no prédio,
reconheceu a esposa e os filhos de Arthur, que vieram lhe cumprimentar com
alegria.
Arthur
vinha a ser o presidente e sócio majoritário daquele Banco, e disse a Adália,
que a partir daquele momento, se aceitar é claro, que ela passaria a ser funcionária
daquela instituição bancária, a sua função será a de chefiar e coordenar a equipe
de limpeza que cuida de todo aquele prédio. A única condição imposta por Arthur,
era que Adália apenas coordenasse e não trabalhasse diretamente com a limpeza.
A vida
de Adália mudou radicalmente daquele dia em diante, pela primeira vez na vida
tinha uma condição financeira estável, a sua poupança que por ironia do destino
era naquela mesma instituição, agora é um fundo de ações gerida pelo próprio
Arthur, a sua neta estuda na escola mantida pela fundação do Banco, na qual a
sua filha foi contratada para dar aulas.
Mas, Adália
não cumpriu a sua parte no acordo com Arthur, todos os dias é ela quem faz a
faxina na sala do Presidente do Banco, que sempre que chega a cumprimenta com
um sorriso e um abraço, e logo depois lhe dá uma dura, não foi para isso que a contratei,
vou ter que demiti-la qualquer dia desses. E ao fundo, ouve-se a voz de Sophia,
filha de Arthur e braço direito do pai na instituição, nem ouse papai, nem
ouse...
Silvio
Klinguelfus Junior
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