Em
meados dos anos oitenta nasceu Luizinho, prematuro aos sete meses, era tão
pequeno quando deixou o hospital que literalmente cabia dentro de uma caixa de
sapato.
Seus pais
eram moradores da periferia de Salvador – BA., e desde sempre, Luizinho teve
que lutar diariamente pela sua vida, aliás, história não muito diferente das
demais crianças que ali nasceram e cresceram, entretanto, por ser muito
mirrado, enfrentava discriminação diária, porém, mesmo que apanhasse não fugia
de uma briga, e na maioria das vezes, mesmo os seus oponentes sendo muito
maiores, era ele quem “saía vencedor” dessas brigas. Ele tinha como dizem no
popular, sangue nos olhos.
Assim,
na sua pré-adolescência embora a sua estatura fosse pequena, era respeitado por
todos os meninos daquela região, ninguém era páreo para o Luizinho. O tráfico
tentava aliciá-lo, porém, os pais já o haviam prevenido e não perdoariam
tamanha decepção. Ele realmente amava aos seus pais e vice-versa, em sua casa
ele sentia-se muito bem, não gostaria de perder aquilo por nada.
Seguia
os estudos aos trancos e barrancos, mas não desistia. Na escola pública em que
estudava, um professor de Karatê começou um trabalho voluntário. Luizinho achou
o máximo uma demonstração que ocorreu na quadra e procurou o mais rápido
possível fazer a sua inscrição.
Passado,
menos de um ano daquela data, Luizinho agora com 13 anos de idade, estava
disputando o seu primeiro campeonato estadual de Karatê. Quando a equipe do
Mestre Oyama chegou ao ginásio onde aconteceriam as lutas, os outros competidores
riam ao vê-lo passar devido ao seu tamanho. Luizinho lutou 5 vezes aquele dia,
ganhou todas por nocaute e foi declarado campeão.
Ao
retornar para a sua casa, teve a maior surpresa da sua vida, todos os moradores
daquela região sofrida o aguardavam para cumprimentá-lo. Ele não cabia em si de
tanta felicidade. Até mesmo o temido dono do tráfico, veio pessoalmente para
lhe dar um abraço.
O
tempo passa depressa, agora Luizinho já é o campeão brasileiro de Karatê. Mas,
a situação financeira estava difícil, e o esporte não estava lhe dando frutos,
após uma conversa com o seu mestre, resolveu abandonar o Karatê e seguir para o
Jiu Jitsu, que seria a porta de entrada para começar a competir em lutas lhe
rendessem algum dinheiro.
A
maior academia de Salvador o recebeu de braços abertos, ali ele cresceu e se
desenvolveu e em menos de um ano, estava disputando campeonatos e sendo
campeão. No desespero para melhorar a sua vida financeira, se inscreveu contra
a vontade do seu mestre de Jiu Jitsu em um campeonato nacional de artes
marciais mistas, logo em sua primeira luta, levou a maior surra da sua vida, perdeu
por nocaute que o deixou inconsciente por alguns minutos e também sem alguns
dentes, o seu adversário na ocasião, um amazonense, embora tivesse a mesma
idade e peso, era muito mais alto e experiente naquele tipo de combate, não
precisou de mais de um minuto para colocá-lo para dormir.
Desanimado
e com o rabo entre as pernas, volta a treinar na academia de Jiu Jitsu, só que
agora, ele sabia não ser invencível e que tinha muito para aprender e treinar.
E, logo começaram a vir os resultados positivos, como estava indo muito bem nos
campeonatos brasileiros de Jiu Jitsu, foi convidado para ir treinar em uma
grande academia da cidade do Rio de Janeiro – RJ.
Agora
ele já recebia uma pequena ajuda de custo da Academia, que dava para ele se
manter, e assim, mais uma nova etapa se abria em sua vida, as das lutas de Artes
Marciais mistas, o popular vale-tudo, Luizinho ganhou a sua primeira luta nessa
nova modalidade, contra um desafiante mais experiente e naquele mesmo
campeonato foi declarado campeão.
Luizinho
sempre que podia visitava aos pais, ajudando-os financeiramente e pensava em um
dia retornar para Salvador.
Após
aquele título, não havia perdido mais nenhum combate, a situação financeira
começava a melhorar, até que chegou o grande dia de disputar o cinturão de
campeão brasileiro dos pesos pena, o seu adversário e atual campeão era
justamente aquele amazonense para quem havia perdido a sua primeira luta.
No dia
da disputa, Luizinho estava confiante, aquela derrota do passado o motivava
ainda mais. A luta foi dura, porém, Luizinho fora mais uma vez derrotado, só
que agora no último assalto e faltando apenas 20 segundos para o fim,
infelizmente novamente foi nocauteado, agora com um cruzado de direita que o
fez beijar a lona. O campeão brasileiro foi impiedoso.
Aquela
derrota, ao invés de desanimá-lo, teve um efeito contrário em Luizinho, o fez
treinar as raias do absurdo. O amazonense e até então campeão invicto, deixou o
Brasil e foi disputar os campeonatos de MMA nos EUA., sagrando-se campeão.
Enquanto isso, no Brasil Luizinho é declarado campeão dos pesos pena e segue os
passos do campeão anterior e começa ele também a sua trajetória internacional.
Após
13 lutas no MMA nos E.U.A, na qual venceu todas por nocaute, se habilita para
disputar o título de campeão mundial dos pesos pena, novamente contra o seu
carrasco o amazonense que nunca perdeu uma luta no MMA., e essa já seria a
terceira vez que colocaria o seu título em disputa.
Luizinho
durante três meses, treinou duro, seus sparrings sofriam com ele, estava decidido
que nunca mais iria perder uma luta, ainda mais para aquele que vem a ser o seu
carrasco.
Faltando
uma semana para a grande luta, o seu oponente durante um treino fratura três
costelas, sendo impedido de disputar o combate. O terceiro no ranking é chamado
para aquela luta, na qual Luizinho sagrou-se campeão interino.
Na
sequência, o atual campeão, toma a decisão de subir de categoria, e, dessa
forma, Luizinho foi declarado campeão dos pesos pena.
Mas,
um sentimento de desânimo tomou conta de Luizinho, pelo fato de verdadeiramente
nunca ter conseguido superar o campeão. Assim, depois de mais um ano
e na impossibilidade de também ele subir de categoria devido a sua compreensão
física, deixa o MMA como campeão invicto.
Financeiramente
estável, volta para Salvador – Bahia, inaugura a sua academia ao mesmo tempo em
que começa um trabalho voluntário com as crianças na mesma escola onde tudo
começou, e de cara se encanta por Amandinha uma menininha mirrada com 11 anos
de idade e com o mesmo olhar de Luizinho.
Essa
promete, pensou Luizinho.
Silvio
Klinguelfus Junior
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