Deus tocou o meu coração e minha alma,
abrindo meus olhos para a verdadeira essência da vida.

6 de junho de 2020

CAMPEÃO


Em meados dos anos oitenta nasceu Luizinho, prematuro aos sete meses, era tão pequeno quando deixou o hospital que literalmente cabia dentro de uma caixa de sapato.

Seus pais eram moradores da periferia de Salvador – BA., e desde sempre, Luizinho teve que lutar diariamente pela sua vida, aliás, história não muito diferente das demais crianças que ali nasceram e cresceram, entretanto, por ser muito mirrado, enfrentava discriminação diária, porém, mesmo que apanhasse não fugia de uma briga, e na maioria das vezes, mesmo os seus oponentes sendo muito maiores, era ele quem “saía vencedor” dessas brigas. Ele tinha como dizem no popular, sangue nos olhos.

Assim, na sua pré-adolescência embora a sua estatura fosse pequena, era respeitado por todos os meninos daquela região, ninguém era páreo para o Luizinho. O tráfico tentava aliciá-lo, porém, os pais já o haviam prevenido e não perdoariam tamanha decepção. Ele realmente amava aos seus pais e vice-versa, em sua casa ele sentia-se muito bem, não gostaria de perder aquilo por nada.

Seguia os estudos aos trancos e barrancos, mas não desistia. Na escola pública em que estudava, um professor de Karatê começou um trabalho voluntário. Luizinho achou o máximo uma demonstração que ocorreu na quadra e procurou o mais rápido possível fazer a sua inscrição.

Passado, menos de um ano daquela data, Luizinho agora com 13 anos de idade, estava disputando o seu primeiro campeonato estadual de Karatê. Quando a equipe do Mestre Oyama chegou ao ginásio onde aconteceriam as lutas, os outros competidores riam ao vê-lo passar devido ao seu tamanho. Luizinho lutou 5 vezes aquele dia, ganhou todas por nocaute e foi declarado campeão.

Ao retornar para a sua casa, teve a maior surpresa da sua vida, todos os moradores daquela região sofrida o aguardavam para cumprimentá-lo. Ele não cabia em si de tanta felicidade. Até mesmo o temido dono do tráfico, veio pessoalmente para lhe dar um abraço.

O tempo passa depressa, agora Luizinho já é o campeão brasileiro de Karatê. Mas, a situação financeira estava difícil, e o esporte não estava lhe dando frutos, após uma conversa com o seu mestre, resolveu abandonar o Karatê e seguir para o Jiu Jitsu, que seria a porta de entrada para começar a competir em lutas lhe rendessem algum dinheiro.

A maior academia de Salvador o recebeu de braços abertos, ali ele cresceu e se desenvolveu e em menos de um ano, estava disputando campeonatos e sendo campeão. No desespero para melhorar a sua vida financeira, se inscreveu contra a vontade do seu mestre de Jiu Jitsu em um campeonato nacional de artes marciais mistas, logo em sua primeira luta, levou a maior surra da sua vida, perdeu por nocaute que o deixou inconsciente por alguns minutos e também sem alguns dentes, o seu adversário na ocasião, um amazonense, embora tivesse a mesma idade e peso, era muito mais alto e experiente naquele tipo de combate, não precisou de mais de um minuto para colocá-lo para dormir.

Desanimado e com o rabo entre as pernas, volta a treinar na academia de Jiu Jitsu, só que agora, ele sabia não ser invencível e que tinha muito para aprender e treinar. E, logo começaram a vir os resultados positivos, como estava indo muito bem nos campeonatos brasileiros de Jiu Jitsu, foi convidado para ir treinar em uma grande academia da cidade do Rio de Janeiro – RJ.

Agora ele já recebia uma pequena ajuda de custo da Academia, que dava para ele se manter, e assim, mais uma nova etapa se abria em sua vida, as das lutas de Artes Marciais mistas, o popular vale-tudo, Luizinho ganhou a sua primeira luta nessa nova modalidade, contra um desafiante mais experiente e naquele mesmo campeonato foi declarado campeão.

Luizinho sempre que podia visitava aos pais, ajudando-os financeiramente e pensava em um dia retornar para Salvador.

Após aquele título, não havia perdido mais nenhum combate, a situação financeira começava a melhorar, até que chegou o grande dia de disputar o cinturão de campeão brasileiro dos pesos pena, o seu adversário e atual campeão era justamente aquele amazonense para quem havia perdido a sua primeira luta.

No dia da disputa, Luizinho estava confiante, aquela derrota do passado o motivava ainda mais. A luta foi dura, porém, Luizinho fora mais uma vez derrotado, só que agora no último assalto e faltando apenas 20 segundos para o fim, infelizmente novamente foi nocauteado, agora com um cruzado de direita que o fez beijar a lona. O campeão brasileiro foi impiedoso.

Aquela derrota, ao invés de desanimá-lo, teve um efeito contrário em Luizinho, o fez treinar as raias do absurdo. O amazonense e até então campeão invicto, deixou o Brasil e foi disputar os campeonatos de MMA nos EUA., sagrando-se campeão. Enquanto isso, no Brasil Luizinho é declarado campeão dos pesos pena e segue os passos do campeão anterior e começa ele também a sua trajetória internacional.

Após 13 lutas no MMA nos E.U.A, na qual venceu todas por nocaute, se habilita para disputar o título de campeão mundial dos pesos pena, novamente contra o seu carrasco o amazonense que nunca perdeu uma luta no MMA., e essa já seria a terceira vez que colocaria o seu título em disputa.

Luizinho durante três meses, treinou duro, seus sparrings sofriam com ele, estava decidido que nunca mais iria perder uma luta, ainda mais para aquele que vem a ser o seu carrasco.

Faltando uma semana para a grande luta, o seu oponente durante um treino fratura três costelas, sendo impedido de disputar o combate. O terceiro no ranking é chamado para aquela luta, na qual Luizinho sagrou-se campeão interino.

Na sequência, o atual campeão, toma a decisão de subir de categoria, e, dessa forma, Luizinho foi declarado campeão dos pesos pena.

Mas, um sentimento de desânimo tomou conta de Luizinho, pelo fato de verdadeiramente nunca ter conseguido superar o campeão. Assim, depois de mais um ano e na impossibilidade de também ele subir de categoria devido a sua compreensão física, deixa o MMA como campeão invicto.

Financeiramente estável, volta para Salvador – Bahia, inaugura a sua academia ao mesmo tempo em que começa um trabalho voluntário com as crianças na mesma escola onde tudo começou, e de cara se encanta por Amandinha uma menininha mirrada com 11 anos de idade e com o mesmo olhar de Luizinho.

Essa promete, pensou Luizinho.

Silvio Klinguelfus Junior

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