Kleberson e Rosa formam um casal muito legal, eles combinam e concordam em quase tudo nessa vida, menos na religião que cada um professa e para o time de futebol que torcem.
Kleberson
um evangélico convicto e Rosa uma católica muito atuante em sua paróquia.
Já no
futebol, Kleberson é corinthiano e Rosa torce para o São Paulo.
E
assim a vida conjugal deles segue no dia a dia, porém, existe o domingo.
E
sempre aos domingos é inevitável a discussão entre eles, ela quer que Kleberson
a acompanhe na missa logo cedo e ele quer que Rosa vá ao culto à noite e nesse
ínterim tem os jogos de futebol.
Kleberson,
nesses quase 5 anos de casados, nunca foi à missa com Rosa, ela por sua vez
sempre o acompanhou aos cultos.
Situação
que estava prestes a mudar, quis o destino que Corinthians e São Paulo se
enfrentassem em um sábado à noite em um jogo do campeonato brasileiro que havia
sido adiado e remarcado.
O
casal resolveu fazer uma aposta, caso o Corinthians ganhasse, Rosa usaria a
camisa do Corinthians durante o almoço de Domingo onde toda a família estaria
presente, já se o São Paulo ganhasse, ele teria que acompanhá-la à missa de
domingo de manhã.
Corinthians
1 x 2 São Paulo.
Naquela
noite Kleberson não dormiu direito, tentando achar meios de escapar daquela
enrascada, mas sabia que Rosa não iria aceitar um não.
E
assim, sem saída, eles se arrumaram e seguiram para a Igreja.
Durante
o trajeto, Kleberson, que estava no banco do passageiro, começou a sentir um
calorão, ligou o ar-condicionado do carro ao máximo, Rosa estranhou, mas nem
comentou, pois não queria que o marido achasse alguma desculpa para desistir de
ir à missa com ela.
Kleberson
seguia calado, estranhando o que vinha sentindo intimamente, mas também não
queria falar nada para Rosa.
Ao
chegarem à Igreja, logo os amigos vieram encontrá-los, depois dos cumprimentos,
adentraram a Igreja o casal se acomodou a pedido de Kleberson no último banco.
Para
surpresa de Rosa, o Padre naquele dia se dirigiu a ela e disse:
-
Rosa, infelizmente a Luciene, passou mal essa noite e precisou se ausentar,
você poderia me auxiliar durante a missa nas funções dela, uma vez que você
sabe de cor todos os procedimentos.
Rosa,
pensou por um instante, que iria deixar Kleberson sozinho, justamente nesse
dia, ao mesmo tempo que não podia recusar ajudar ao padre, e respondeu:
-
Claro, Padre. Vamos lá.
Se
despediu de Kleberson, o padre pediu desculpas a ele que entendeu a situação
sem nenhum problema.
Kleberson,
sentado ali sozinho no último banco da Igreja, que naquele domingo não estava
cheia, começou novamente a sentir um calorão, sua visão embaçou completamente
por alguns poucos instantes, quando ela voltou, estranhou, pois parecia estar
enxergando tudo em duplicidade, coçou os olhos, abriu e fechou várias vezes,
depois tentou se levantar e não conseguiu.
Então
respirou fundo, ao menos o calorão passou, pensou ele, consigo mesmo, a missa
havia começado.
E ele
seguia com a visão estranha, ao mesmo tempo que estava tudo muito nítido, como
há muito ele não enxergava, parecia que ele estava vendo além.
Realmente
ele estranhou que a Igreja agora estava lotada, havia muitas pessoas em pé,
algumas iam e vinham apressadas pelo corredor.
Kleberson
resolveu focar no padre, e pôde observar que uma luz roxa descia do teto da
Igreja até a cabeça dele, que tinha ao seu lado diversas pessoas o auxiliando
de uma forma estranha, algumas levantando as mãos em sua direção.
Ouvia
perfeitamente o que o padre falava, pode observar que junto as primeiras três
ou quatro fileiras da Igreja, que estavam cheias, uma luz muito brilhante,
fazia o caminho inverso da luz que iluminava ao padre, ou seja, ela saia das
pessoas que ali estavam em oração e subia em direção ao teto e se espalhava por
toda a Igreja.
Aquela
luz brilhante espargia um calor agradável a Kleberson, que relaxou ao ser
atingido por ela.
Ele
continuava, ali estático, porém, com seus sentidos mais aguçados do que nunca.
Pode
ver que as pessoas que estavam em pé no corredor, auxiliavam aos que estavam
sentados nos bancos, impondo-lhes as mãos igual faziam com o padre e até mesmo
abraçando-os carinhosamente, inclusive aconteceu com ele, recebeu o abraço mais
gostoso de toda a sua vida, mas sem que pudesse retribuí-lo.
É como
se tudo isso tivesse acontecido em apenas poucos minutos, quando de repente ele
ouve a voz de Rosa.
-
Kleberson, vamos! A missa já terminou.
- Como
assim, Rosa! Nem percebi o tempo passar.
-
Imagina, hoje a missa demorou mais que o normal. O senhor deve ter dormido,
isso sim. Qual foi o sermão do padre hoje, perguntou Rosa?
Rosa
se assustou quando Kleberson comentou certinho o que o padre havia falado e
também de tudo que aconteceu durante à missa.
Ela
estranhou Kleberson não ter reclamado, pelo contrário aparentava estar muito
feliz.
Kleberson
por sua vez, em um primeiro momento, sem entender absolutamente nada do que viu
e sentiu durante a missa, resolveu guardar para ele àqueles sentimentos.
Passados
alguns momentos uma certeza tomou conta dele, em seu âmago ele sabia que lhe
foi permitido ver, o que verdadeiramente de fato ocorre no mundo espiritual
durante uma missa. Sabia também que o mesmo deveria ocorrer durante o culto da
sua Igreja e assim como de todas as demais religiões, e que para ele àquelas
pessoas eram na verdade anjos.
Então
encarou aquilo como uma revelação íntima. E a partir daquele dia, ele tomou uma
decisão, que foi muito bem aceita por Rosa.
Ficou
combinado entre eles, que um domingo iriam à missa de manhã e no outro iriam ao
culto à noite, e ainda que sempre que um quisesse ir ao estádio assistir ao
jogo do seu time de coração o outro iria acompanhar de bom grado.
E,
dessa forma, o casal acabou com àquelas discussões de domingo, que passou a ser
o dia da semana que esperavam ansiosos.
Um
beijo no coração e que Deus nos abençoe hoje e sempre.
Silvio
K. Jr.
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