Ontem fiquei por 1hs 40 min. dentro de uma máquina fazendo exames, apenas podendo mexer as pontas dos dedos dos pés e das mãos.
Enquanto a máquina me digitalizava internamente, emitia sons iguais daqueles jogos de vídeo games de antigamente, ora eram ritmados, ora eram descompassados, e assim o tempo ia passando.
Parado ali, tendo a atenção voltada aos sons emitidos, começou a passar um filme na minha cabeça.
Como será que vai ser o resultado do exame, e se não estiver tudo em ordem, vou ter que passar por tudo novamente, doideira total, um pensamento leva a outro, e um pior do que o outro.
De repente fui tomado por uma corrente de energia que percorreu todo o meu corpo, senti um afago nos meus cabelos, e a certeza que não mais estava a sós na sala.
O silêncio que a tanto venho procurando, tomou conta daquele lugar e dos meus pensamentos, apenas a figura doce e meiga de Jesus, preenchia meu campo mental.
E uma pergunta, me foi feita, como se que assoprada em meus ouvidos. Você acha que já está preparado para morrer?
Abri os olhos assustado, e logo tive a minha atenção chamada pela voz do médico, que me pedia para encher os pulmões de ar, e segurar a respiração, e assim se sucederam os próximos minutos.
Findo o exame, me despedi do médico, me troquei e peguei o caminho de casa.
No carro, aquela pergunta não saia da minha cabeça. Você acha que já está preparado para morrer?
Confesso que um calafrio percorreu todo o meu corpo, e fiquei completamente arrepiado, só de pensar em responder aquela pergunta.
Fiquei meio amargurado no resto do dia. Sinceramente ainda não sei bem qual será a minha resposta, no entanto, devo dizer que não mais possuo medo de morrer, sei que a morte não é o fim, e nesses dois últimos anos, fiz grandes progressos, sou com certeza uma nova pessoa, porém fico imaginando deixar minha filha ainda uma criança, minha mulher terá mais uma barra para enfrentar; como vai ficar a vida delas, sem mim. Sei que talvez seja muita pretensão minha parte. Acredito também que o tempo é o melhor remédio para tudo, mas como filho que já perdeu os pais, sei que a dor para quem fica é muito grande, e também vi a falta que minha mãe fez a meu pai, quando ela partiu, e a tristeza que tomou conta do seu coração.
Assim sendo, não me acho preparado para morrer, acredito que ainda tenho muitas realizações por fazer, acredito que ainda sou importante aqui, mesmo que para ficar, seja preciso lutar, mesmo que seja preciso passar por tudo novamente, mesmo que seja dolorido, mesmo que seja sofrido, tudo será diferente e tudo terá valido a pena, por ter mais algum tempo junto a minha filha e a minha mulher.
Assim seja.
Um beijo no coração
Silvio Klinguelfus Junior