Em uma
casinha simples, assim como tantas outras no Estado do Paraná que são feitas de
madeira, por serem um excelente isolante térmico, perfeita para os períodos de
extremo frio naquela região do país.
Pai, mãe
e filho viviam o sonho de todo pequeno agricultor, conseguir sobreviver com aquilo
que produzem.
Nessa
vida simples o radinho de pilha era companheiro inseparável o pequeno Samuel
que mais parecia um curió de tanto que gostava de cantarolar, adorava as modas
de violas, mesmo aos cinco anos de idade, sabia todas de cor.
O seu
talento impressionava aos seus pais, que sabiam estar diante de um gênio, mesmo
quando a pequena rádio do interior tocava algumas músicas estrangeiras ele sabia
cantá-las e era capaz de assobiar com perfeição as músicas clássicas que ouvia incansavelmente
na pequena vitrola que ganhou de presente de aniversário dos seus avós, juntamente
com alguns discos de vinis que continham as maiores obras primas.
A vida
seguia tranquila para o pequeno Samuel, até que o inesperado acontece naquele
ano de 1.992, um tornado de proporções gigantescas assolou a região da pequena
cidade de Almirante Tamandaré – PR., o pai ao ver o tornado se aproximando,
levou a esposa e filho para um pequeno porão que ficava abaixo da casa, ficando
o pai deitado por sobre os dois, infelizmente a casa de madeira não aguentou e
desmoronou, uma viga do telhado caiu com tanta força que varou o alçapão do porão,
vindo a ferir mortalmente aos pais do Samuel que somente sobreviveu por centímetros.
Ali
preso nos escombros, por debaixo dos corpos dos seus pais, esperou por quase três
dias até que o resgatassem, nesse período, a sua companhia fora um rádio que funcionou
sem parar, trazendo mensagens de esperanças, músicas que Samuel nunca as tinha
ouvido, mas que calavam fundo ao seu coração, jurava ouvir seus pais através do
rádio, dizendo que estavam bem e que a ajuda logo viria, e que mesmo de longe
sempre estariam junto com ele e que o seu futuro embora fosse em terras
distantes e no idioma dos seus avós, logo ele estaria de volta para ajudar
muitas pessoas.
As
horas iam passando e o pequeno Samuel como se confortado, já não se sentia tão
só, quando os vizinhos da propriedade rural conseguiram finalmente chegar até a
ele, se espantaram com a sua coragem. Samuel parecia ser um adulto, tamanha era
a sua força moral.
Contou
aos seus socorristas como tudo aconteceu e as histórias que ouviu no rádio,
porém, o único rádio que encontraram naquele porão, era um velho, aparentemente
quebrado e que não era alimentado por pilhas e sim por eletricidade, o que toda
a região estava sem, desde o dia da passagem do tornado. Imaginaram que o
pequeno Samuel estava em choque e que havia imaginado tudo aquilo.
Seguindo
as orientações que lhe foram passadas, Samuel pediu para ir morar com a tia,
irmã da sua mãe, o que não lhe foi negado e assim seguiu para a Curitiba – PR.
Sua tia era extremamente amorosa e se parecia muito com a sua mãe, ela o
recebeu como filho e além das afinidades entre parênteses próximos, os dois
tinham o amor pela música em comum, sua tia cantava muito bem e o seu tio tocava
na Orquestra Sinfônica do Paraná, criada então a pouco mais de cinco anos.
Assim
nessa família musical ele se desenvolveu musicalmente, compondo aquelas músicas
que ouviu quando estava soterrado, o seu tio no início o ajudava a transformá-las
em notas musicais, mas, logo Samuel fazia tudo sozinho e com extrema destreza, e
aos 10 anos de idade, após participar e ganhar um concurso para novos talentos,
teve a sua primeira obra executada pela Orquestra Sinfônica do Paraná.
Um
grande maestro internacional havia sido convidado a participar como jurado
naquele concurso e se espantou com a qualidade daquela música, obviamente se
interessou em conhecer o autor, ao se deparar com as outras obras do pequeno
Samuel, se encantou e imediatamente o convidou juntamente com a sua família
para irem morar com ele em Berlim, na Alemanha.
Novamente
a vida do pequeno Samuel muda completamente, e mesmo assim, ele seguia seguro,
não titubeou nem um pouco quando o contive chegou, os seus tios sabiam que estavam
diante de um pequeno gênio e igualmente não tiveram medo em aceitar ao convite.
A vida
em Berlim foi repleta de alegrias, Samuel dominou o idioma imediatamente, bem
como os seus tios que assim como ele tinham origem germânica e já eram familiarizados
com a língua, haja vista, seus avós e pais se comunicarem no idioma da terra
materna.
Inacreditavelmente
mesmo sendo na atualidade um dos maiores compositores de músicas clássicas no
mundo, Samuel não é reconhecido no Brasil.
Hoje
aos trinta e três anos de idade, divide o seu tempo entre a Capital Alemã e a
pequena Almirante Tamandaré, no Estado do Paraná, e naquele mesmo sitio onde
outrora morou e perdeu seus pais, fundou uma escola onde se ensina de tudo, da
música clássica, passando pelo balé, indo até a leitura, navegando por histórias,
contos e poemas, verdadeiro oásis da cultura que floresceu justamente onde tudo
parecia ter terminado um dia.
A vida
e seus mistérios...
Silvio
Klinguelfus Júnior