Algumas
vezes somos colocados em situações inesperadas e até mesmo inusitadas. Essa
semana um amigo me procurou, queria saber se eu podia ajudá-lo. A mãe dele esta
com câncer e totalmente inconsolável, e ele queria perguntar-me o que dizer
para uma pessoa com câncer, haja vista, eu ter passado por um.
Expliquei-lhe
que talvez a minha resposta não o agradasse, pois a mim mesmo, se eu a
recebesse de alguém há cinco anos, também não me agradaria; que o meu
entendimento sobre o câncer, era algo pessoal e que a minha posição só importava
a mim mesmo.
Mas
diante da insistência quase desesperadora, disse-lhe, que para mim, tudo se
resume a uma palavra “APEGO”. Que basicamente já nascemos dizendo adeus, e
quando a morte chega, perguntamos o que aconteceu de errado? E eu lhe respondo
sem medo de errar: Nada, pois todo mundo tem o seu tempo.
Sua
mãe está com oitenta anos, e a velhice é o coroamento do sucesso dela;
compreender que existe vida após a “morte”, e que para chegar lá é claro que é
preciso “morrer”, é sem dúvida algo que nos alenta. A eternidade da alma é uma
realidade, excetuando os ateus, todos os demais que professam alguma religião e
não importa qual seja, pois todas pregam a imortalidade da alma.
Aliás,
tanto o ateu como o religioso, em seus extremos, tem algo em comum, sempre
tentam converter quem estiver a sua frente.
Enfim,
o problema não é para quem vai, e sim para quem ainda não foi. Como já afirmei,
esse é um entendimento meu, e quando eu lhes digo isso, podem ter certeza, que
os ouvidos mais perto da minha boca, não são os seus e sim os meus.
Portanto,
é esse maldito apego, que nos faz sofrer. Tudo é mera ilusão, só é nosso aquilo
que podemos levar para sempre, e são elas as nossas experiências e as nossas
memórias, enfim, estamos passando por aqui, mas não somos daqui, tudo é
transitório, não temos nada, as coisas apenas passaram por nós.
O
sentimento de posse é latente em nós, senão vejamos: minha mulher, minha filha,
minha casa, meu carro, meu emprego, e etc... e até pelas coisas ruins também
nutrimos sentimentos de posse, meu câncer, minha deficiência, meus problemas, meu “karma” (esse eu não erro mais, karma:
significa ação; então nada tem ruim – risos); assim, quando
envelhecemos ou contraímos uma doença considerada grave, o que de fato acontece
é que temos um problema sério para nos desapegarmos de tudo e de todos, temos
uma sensação de perda, baseada na falsa sensação de posse.
Hoje
em dia, eu dou sim o devido valor ao dinheiro e as coisas materiais,
entretanto, não sou mais dependente delas, deixei de viver em função e em torno
delas, compreendi que eu posso ter tudo, sem ser escravo disso tudo, percebi a
tempo, que eu sabia o preço de tudo, menos o valor da minha própria vida.
Com
o câncer, aprendi a viver de uma forma mais leve, menos sobrecarregada, mais
feliz, descobri também que o melhor caminho sempre é o do meio, pois os
extremos são sempre perigosos. E o principal, é que através dele encontrei
Jesus.
Um
beijo no coração e que Deus nos abençoe a todos.
Silvio
Klinguelfus Junior